Outras grandes companhias passam por recuperação judicial para evitar o mesmo destino

Em um intervalo de cinco anos, 30 empresas decretaram falência em Joinville, 11 delas somente no ano passado, como aponta um levantamento da Serasa Experian – expert em análises e informações de crédito e negócios. O total acumulado em 2018 é o maior desde 2014 e 22% superior à soma dos três anos anteriores, em que nove empreendimentos encerraram as atividades na cidade.

O maior salto das falências informadas em Joinville ocorreu justamente na virada para 2018, quando passou de um caso, em 2017, para os 11 registrados entre janeiro e dezembro últimos.PUBLICIDADE

Na tentativa de se reestruturar, também nesses cinco anos foram feitos 33 requerimentos de recuperação judicial no município. No mesmo período, houve ainda 28 pedidos de recuperação deferidos e oito concedidos pela Justiça. Em 2018 foram três requerimentos, três deferimentos e duas concessões.

Por enquanto, em 2019 o número de solicitações e de baixas estancou e ainda não foram contabilizadas novas falências ou mesmo pedidos de recuperação de companhias joinvilenses.

Uma empresa não quebra de um dia para o outro.

A causa

Para João Martinelli, presidente da Associação Empresarial de Joinville (Acij), talvez o fator determinante ao crescimento dos pedidos de recuperação ou mesmo a falência de empresas nos últimos anos decorre dos desdobramentos da recessão econômica. “O reflexo dos números no ano passado nada mais é do que o desfecho da crise que se arrastou de 2015 a 2017”, avalia.

— Uma empresa não quebra de um dia para o outro, ou seja, há muitas empresas ainda que por reflexo da crise estão tentando se recuperar. Então, assim como uma empresa não se recupera da noite para o dia, ela também não quebra. Ela vai acumulando prejuízos, depois acaba realmente tendo que decretar falência ou entrar em recuperação judicial. 2018 traz este reflexo — afirma.

Apesar disso, o líder empresarial destaca que desde 2014 a média de falências é de seis empresas por ano, algo que no universo de companhias joinvilenses – hoje entre três e quatro mil empreendimentos – não chega a ser tão significativo. Em contrapartida, o que chama a atenção são as grandes baixas no período, de grandes empregadoras como a Busscar e a Duque, essa ainda em recuperação judicial.

— O que causa impacto são essas companhias maiores, que detinham milhares de empregos —ressalta.

Novo momento

Na avaliação do especialista em recuperações judiciais, Agenor Daufenbach Júnior, as empresas joinvilenses que enfrentam o processo de reestruturação têm se mostrado mais confiantes com o início do novo governo. “Há estabilização do câmbio, a própria bolsa de valores crescendo, então esse ambiente econômico está mais confiante embora o crescimento, em números, ainda seja pouco substancial”.

— Isso não vem se refletindo ainda muito em números, mas as empresas em si estão estáveis e todas as que visitamos visualizam melhora para o futuro — destaca.

João Martinelli mantém opinião parecida.

— Daqui para a frente, nós vamos verificar um número muito menor (de falências), porque as empresas que não quebraram ou que estão em recuperação judicial com certeza vão se valer de um mercado melhor, de uma economia melhor, para poder se reerguer.

Grandes empresas enfrentam recuperação judicial

Em Joinville, nesta última década grandes empresas estiveram ou ainda estão envolvidas em processos de recuperação judicial. Talvez o maior exemplo é o da antiga Busscar, que teve falência decretada em 2012, com dívidas que superavam R$ 1,6 bilhão. A massa falida da empresa foi vendida para um grupo de investidores, entre eles os sócios da Caio Induscar (uma das principais fabricantes de carrocerias de ônibus do País), e voltou a operar. Porém, ainda hoje, cerca de seis mil credores têm valores a receber.

De acordo com o administrador judicial da massa falida da empresa, Instituto Professor Rainoldo Uessler, o valor atual da dívida ainda está sendo contabilizado, uma vez que continuam sendo levantados os valores conseguidos com a venda de bens da companhia e também devido à dependência de impugnações de crédito pendentes na Justiça, entre outros.

Outros processos conhecidos e ainda em curso são o da Wetzel S.A, atuante nos segmentos automotivo, de eletroferragem e instalações elétricas, e da metalúrgica Duque S.A. Ao lado de outros sete empreendimentos, as duas companhias têm suas recuperações acompanhadas pela Gladius Consultoria.

O escritório também administra as recuperações das joinvilenses Manchester Logística Integrada/Manchester Empreendimentos Imobiliários; Indústria de Máquinas Eldorado; Juane Alimentos e Bebidas/Congevin Alimentos e Bebidas; Athletic Way Comércio de Equipamentos para Ginástica e Fisioterapia; Vogelsanger; e Interativa Indústria e Comércio de produtos reciclados LTDA.

Segundo o administrador judicial e sócio da Gladius, Agenor Daufenbach Júnior, no caso da Wetzel, que teve o plano de recuperação aprovado em junho de 2017, a empresa está cumprindo o planejado.

— A Wetzel voltou a crescer e já está novamente com mil funcionários, tem uma boa expectativa de crescimento na área de eletrotécnica, inclusive atendendo especialmente a área da construção civil. Visitei a empresa há duas semanas e o cenário é otimista — revela o advogado.

Já a Duque passa por procedimento atípico e tem seu processo de recuperação arrastado desde 2014, chegando inclusive a ter falência decretada e anulada pela Justiça no período. Nesta quinta-feira (14), a metalúrgica apresentou nova proposta aos credores em assembleia.

— A Duque enfrenta uma situação mais delicada quanto à recuperação, porque não conseguiu cumprir aquele plano inicial. O magistrado permitiu que os gestores apresentassem um novo plano, embora a empresa esteja parada há um ano — explica Agenor.

— Este (novo) plano não prevê em linhas gerais o retorno da atividade, prevê que se faça nascer uma nova empresa, chamada UPI – Unidade Produtiva Isolada, destinada à exploração imobiliária do imóvel da Duque para que esse dinheiro seja destinado aos credores. É a proposta que eles terão que estudar (nesta quinta) — conclui.

Mais um exemplo, este sob consultoria de Rogério Dantas, da RND Consult LTDA, é o processo de recuperação envolvendo a Douat Têxtil. “O processo da companhia encontra-se em gabinete, aguardando realização de nova Assembléia Geral de Credores para deliberação quanto a alterações no Plano de Recuperação Judicial”, aponta o advogado Marcelo Reinhold.

Entenda a recuperação judicial

Medida tomada para evitar um possível processo de falência e recuperar a sustentabilidade das companhias, o pedido de recuperação judicial é feito em juízo e segue a Lei 11.101/2005. Geralmente a solicitação ocorre com o objetivo de preservar as atividades produtivas e econômicas do negócio, quando o mesmo enfrenta dificuldades financeiras e não consegue honrar suas dívidas com credores.

Se aprovado, o deferimento da proposta representa o escalonamento desses débitos e a empresa deve seguir um plano de recuperação aceito pela maioria dos credores dentro do prazo de até dois anos – o pagamento dos acordos, no entanto, pode superar esse prazo conforme previsto no plano aprovado em assembleia. Caso descumpra as obrigações previstas, a companhia pode ter a falência decretada; e quando a manobra é bem sucedida é possível, por exemplo, sanar as dívidas e recuperar a confiança do mercado.

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