reuniao, parceria, socio (Foto: Divulgação)

É bem possível que você tenha sócios ou pessoas muito especiais na sua empresa –  principalmente se você que já começou seu negócio. Pessoas que entraram cedo na organização, e que, acreditando na sua ideia, ralaram e continuam ralando para colocar o sonho de pé.

Essa formatação inicial é crucial para tudo. Você deve saber, mas é sempre bom reforçar: uma escolha acertada aumenta muito as chances de êxito do negócio. Já o sócio errado… muito bem, sabendo disso, investidores são, antes de mais nada,  sócios que não estarão direto no seu dia a dia, mas que gozarão de certos direitos e obrigações um pouco diferentes, como por exemplo:

Direito formal de opinar e votar no curso do negócio – exercício do direito de voto em reuniões de conselho;

Pode ter, sozinho, o direito de alterar o rumo estratégico da empresa – ex. vetos em certas decisões como investimentos relevantes, M&A, novas capitalizações, mudança do time de gestão;

Em muitas situações, direito de retornar o capital em primeiro lugar em relação aos demais sócios – liquidation preference;

Obrigação de aportar capital na forma combinada no acordo de investimentos.

O momento de escolher um investidor é a hora de colocar tudo isso na balança. Defina com clareza quais os critérios que são importantes para você, seus sócios, e para a saúde e sucesso do seu negócio. Seja muito racional e honesto com você mesmo. Abaixo, listo 5 dos critérios que costumo usar:

1. Tamanho do cheque e quanto tempo deve durar
Dependendo do estágio em que sua empresa se encontra, o valor que você precisa levantar pode variar muito – de menos de R$ 1 milhão a mais de R$ 100 milhões. De acordo com o valor, há classes diferentes de investidores – seed, VC, growth, Private Equities – mas sobre esse tema há muito bom conteúdo disponível.

O que julgo crucial é que você tenha clareza de quanto dinheiro precisa levantar para que a sua empresa chegue onde você quer e, além disso, durante quanto tempo essa ação será necessária.

Uma captação tem que ser suficiente – com folga – para te levar até além da data estimada para seu próximo round. Tenha sempre um horizonte de mais de 1 ano de caixa. Idealmente mais de 1,5 ano, uma vez que um novo processo de captação pode facilmente durar mais de 6 meses – entre a decisão de começar a falar com investidores até o dinheiro estar disponível no caixa.

Seja muito cuidadoso aqui, não deixe seu enorme otimismo ofuscar o conservadorismo nesse tema e não queira viver a experiência de ficar sem fluxo de caixa no meio da jornada.

2. Duração da jornada
Quanto tempo você definiu no seu plano de negócios para que sua empresa “decole” ou atinja a altitude de vôo que você julga a correta? 1 ano ? 3 anos ? 5 anos ? 10 anos ? Aqui é muito importante você estar alinhado com o tempo do seu investidor. Não seja permissivo e permita o desalinhamento dos tempos.

Se você perguntar a investidores em geral, muitos dirão que estão no negócio para o longo prazo.

Se o investidor for de fundo, seja diligente para entender o tempo de duração do fundo, a mecânica de remuneração dos gestores e o perfil dos investidores cotistas do fundo. Essas informações te dirão muito sobre o que, na prática, é o horizonte de tempo desse investidor. Busque também referências de empreendedores que já foram investidos por ele.

Tenho um certo interesse por investidores personificados por empreendedores – indivíduos ou grupos – mais experientes, que já realizaram muito: construíram grandes negócios, empregaram muitas pessoas, viveram ciclos e crises, caíram e levantaram-se.

Normalmente, apresentam-se na forma de suas pessoas físicas, fundos exclusivos (ex. seus family offices) ou fundos de investimento onde sua participação no capital, bem como sua filosofia de investimentos, é relevante ou predominante.

Na maioria das vezes, o compromisso de tempo deles é longo. Muitas vezes estão no jogo legitimamente pelo prazer de construir junto com você, e mirando o sucesso no longo prazo. Acho isso muito bacana.

3. Simplicidade
No mundo de Venture Capital, uma regra que acho muito importante é: começou a complicar a conversa pelo lado do investidor, a burocracia começou a emergir e de repente surge uma névoa que impede de evoluir de forma rápida e objetiva na negociação, não perca mais seu tempo. De duas uma:

O investidor não está convicto no investimento e está criando formas adicionais de proteção – e, nesse caso, não vale a pena nem pra você nem pra ele; ou
Ele não sabe o que está fazendo e isso vai atrapalhar a sua vida e a da sua empresa no futuro.
Bote uma coisa na sua cabeça: Em VC, quem quer muito fazer um investimento faz e faz rápido. Goste de quem gosta de você.

4. Complementariedade de competências
Nunca busque apenas o dinheiro, isso é um erro enorme. Falo isso sobre o primeiro seed, até uma Série C, D ou PE.

Por exemplo, se você está num segmento onde a credibilidade de uma pessoa de “cabelo branco” com histórico de realizações é importante para atrair talentos e parceiros desse setor específico, não tenha dúvidas e vá atrás disso. Mas, ao mesmo tempo, tenha muita clareza do que você e não quer. E se você parar pra pensar, vai lembrar de muita coisa que não quer…

A melhor forma que achei para fazer isso é montar uma pequena matriz com linhas de competências ou características que você deseja e as que não deseja. Nas colunas você coloca os investidores. Preencha de forma muito honesta, e peça para o seu (ou seus) sócio atual fazer o mesmo.Com tudo isso em mãos é hora de confrontar as opiniões.

5. Intuição
Por último, a mais importante. Em decisões complexas, onde a racionalização é parte do processo, mas não ele todo, confie na sua intuição. No final da história, você está trazendo abordo da sua empresa novos sócios que terão o papel de investidores.

Pare e pense: Se eu estivesse começando a empresa hoje, eu traria essa pessoa ou esse grupo de pessoas para serem meus sócios ? Eu terei prazer em conviver com essa turma pelos próximos anos ? Será divertido ? Será produtivo ? Vou me tornar uma pessoa melhor com eles ?

De novo, seja franco com você. É fácil criar muletas, tapa-olhos e névoa pra evitar ver e entender o que está lá escancarado e que deve ser visto ou percebido. Busque clareza absoluta em como você percebe o seu candidato a novo sócio – a decisão fica muito mais simples!

Por fim, uma pergunta que muitas vezes me fazem: Investidor brasileiro ou estrangeiro?
A minha resposta é simples: converse com os dois, pondere e faça sua escolha.

Aliás, não deixe de conversar com os estrangeiros. Pegue o avião e vá para os EUA ou talvez Europa, mas antes de tudo prepare-se. Faça muito bem feita a sua lição de casa:
Identifique quem são os investidores mais importantes do seu segmento. Preferencialmente, procure quem investiu no seu benchmark;

Treine, treine e treine. A forma de um pitch feito fora do Brasil tem diferenças importante, busque ajuda de quem teve essa experiência;

Vá pra cima sem medo. Os investidores estão lá por sua causa: você é o protagonista.
Você pode até acabar não captando com o estrangeiro, mas vai aprender um monte e amadurecer. Eles são diretos e falarão o que é bom e o que não é no seu negócio. Melhore, mostre que você é fazedor e e volte lá no semestre seguinte. Persistência é uma das maiores qualidades que você pode mostrar.
*Texto de Guilherme Almeida, CEO do Dr. Consulta

Fonte: PEGN

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