Consulado da Mulher e Núcleo de Mulheres da Acij são exemplos de iniciativas
Em 2011, logo após ficar desempregada, uma amiga que trabalhava na Whirlpool experimentou o strudel de Cláudia e gostou tanto do doce que a convidou para conhecer a Oficina do Sabor, uma das iniciativas dentro do projeto de empreendedorismo feminino do Consulado da Mulher, promovido pela multinacional.
Ela aceitou o convite e acabou abraçando de vez a atividade de confeiteira. Três fatores foram determinantes para a decisão: as condições tributárias atualmente mais favoráveis para o microempreendedor, o seu próprio amadurecimento pessoal e profissional e o apoio do associativismo. Cláudia participou do projeto do Consulado por dois anos.
Uma das primeiras barreiras que venceu foi o próprio preconceito. Atender às pessoas de touca e avental não foi tão simples no começo. Depois, passou a ser motivo de orgulho.
— Quebrei valores e construí novos. Antes era mais individualista e descobri que trabalhar em rede é muito rico — afirma.
Durante o projeto, Cláudia conseguiu bolsa de estudo para realizar o curso técnico de confeitaria. Em seguida, partiu para a especialização na mesma área. O associativismo também lhe deu a oportunidade de receber assessoria sobre gestão e negócio e de aprender com a experiência de outras empreendedoras.
As colegas a ajudaram, por exemplo, a aprimorar a confecção de pães, que inicialmente ficavam muito duros, reconhece a empreendedora. Outro aspecto importante foi o contato direto com o cliente na lanchonete Oficina do Sabor.
— Aprendi a ter mais foco, produzir número menor de itens para ser mais fácil de controlar estoque, custos e ganhos — recorda-se.
Quando abriu a confeitaria pela primeira vez, Cláudia não conseguiu enfrentar a concorrência dos cafés que começaram a se estabelecer dentro de shopping. Agora, trabalha em casa e recebe encomendas, principalmente, pelas redes sociais.
— É uma mudança de estilo de vida, não tenho salário fixo no final do mês e aprendi a lidar com isso. A qualidade de vida melhorou muito, minha filha almoça em casa. Mesmo envolvida com a confecção de doces, estou perto da família. Em dias muito quentes, trabalho de madrugada — afirma.
Agora que os produtos são mais conhecidos e a rede de relacionamentos cresceu, outras portas estão se abrindo para Cláudia. A empreendedora já foi convidada para ministrar aulas e oficinas de confeitaria.
Desafios que só elas têm
Empreender não é tarefa fácil e as mulheres ainda se deparam com questões bem particulares. A presidente do Conselho Estadual da Mulher Empresária (Ceme), Janelise Royer dos Santos, cita dois exemplos. O primeiro diz respeito às empresas familiares, muitas vezes um negócio aberto junto com o cônjuge. Não são todas as mulheres no comando que se sentem, de fato, donas do negócio.
— Algumas aceitam ficar um pouco atrás para manter a paz — afirma Janelise.
Excelência
O segundo refere-se a uma característica bem comum no universo feminino, a de só assumir um novo desafio quando a mulher está 100% certa de que tem capacidade para realizá-lo. Janelise explica que muitas querem se assegurar de que vão fazer um excelente trabalho. Um equívoco, alerta.
— A mulher precisa aprender a não recusar oportunidades, aceitá-las e se permitir ir aprendendo durante o processo — complementa, acrescentando que os núcleos empresariais do Estado trabalham forte na conscientização.
Valor do trabalho
Outro desafio a ser vencido, especialmente entre mulheres de baixa renda, é não saber quanto vale o trabalho realizado, pois estão acostumadas a achar que não tem valor, explica Paulo Dalfovo, coordenador do Consulado da Mulher, ação social de empreendedorismo popular da Whirlpool para o ramo de alimentação.
Quando conseguem gerar renda com o próprio trabalho, a autoestima aumenta muito, diz o coordenador.
— Muitas empreendedoras não acreditam nelas próprias e quando passam a acreditar, conseguem romper várias barreiras — afirma.
O Consulado é voltado para mulheres de baixa renda que já sabem fazer algo, mas não possuem o conhecimento de como transformá-lo em negócio e geri-lo. O perfil predominante é o de mulheres de aproximadamente 40 anos e com dificuldade de se inserir ou retornar ao mercado de trabalho.
Muitas acumulam tarefas que as impedem de cumprir o horário convencional das empresas. Durante a consultoria do Consulado, conseguem ter flexibilidade. A metodologia foi desenvolvida especialmente para elas. Nada é marcado de manhã porque as mulheres costumam ter vários afazeres nesse período.
Apoio da família
No Serviço de Incentivo das Organizações Produtivas (Siop), em Joinville, a coordenadora Lisielen Miranda Goulart observa uma dificuldade de organização entre as mulheres que desempenham o papel de mãe, dona de casa e empreendedora. Outro desafio é a família entender que quando ela tem um negócio, tem que dedicar tempo para a atividade.
Orientação
O associativismo é crescente entre as mulheres, segundo a presidente do Ceme, Janelise dos Santos. Juntas, conseguem mais resultados. Às vezes, a simples troca de informações entre uma empresária e outra ajuda no crescimento, observa.
Em Joinville, a empresária Tina Marcato preside o Núcleo de Mulheres da Associação Empresarial de Joinville (Acij). A adesão às atividades oscila. Em média, 24 associadas da Acij têm participação efetiva no núcleo.Os principais benefícios, pontua Tina, são a construção de redes de relacionamento, o aperfeiçoamento de competências de gestão e o autodesenvolvimento.
Segundo Tina, quem busca o associativismo está à frente de seu negócio e quer prosperar. A entidade, que completou 20 anos de atuação, tem palestras, cursos e serviços que ajudam a guiá-la nessa direção.
Fonte: ANotícia