Empresa, que produz tênis das marcas Adidas e Asics, demitiu 600 empregados
Depois de quase 10 meses de preparativos, a Paquetá Shoe Company, empresa que atua na produção e venda de calçados no varejo, apresentou nesta segunda-feira (24) seu pedido de recuperação judicial (RJ). O valor das dívidas coberto pela proposta, protocolada no sistema eletrônico do Judiciário, é de R$ 638,5 milhões.
A Paquetá iniciou as suas atividades no ano de 1945, em Sapiranga, no Rio Grande do Sul, Brasil. Hoje, formada por várias empresas e negócios: indústria de calçados, varejo de calçados, couros, fazendas, empreendimentos imobiliários, administradora de cartões de crédito, além de administrar as marcas Dumond e Diadora.
A empresa tentou fazer uma negociação direta com os credores para alongar os compromissos, mas os custos ficaram muito altos, relatou à coluna Márcio Carpena, participante de um dos três grupos que assessoram o processo que, segundo o advogado, tem como objetivo reestruturar a completamente a empresa. Também atuam a consultoria Galeazzi e o escritório de João Pedro Scalzilli, especializado em recuperação judicial.
A Paquetá fatura cerca de R$ 1,3 bilhão ao ano, tem 10.250 funcionários, 11 fábricas, 148 lojas próprias e 86 franquias. Recentemente, a empresa demitiu 600 empregados. Segundo Carpena, esse ajuste de quadro, que incluiu fechamento de unidades, foi parte do plano para enxugar a empresa. Além da planta da República Dominicana, outra em Chivilcoy, na Argentina, teve atividades encerradas. A intenção é concentrar os negócios, com redução que não será drástica, afirma o profissional:
— Hoje não há perspectiva de que daqui para a frente haverá demissão de número expressivo de funcionários.
Entre as opções sobre a mesa, está a venda de partes da empresa no formato de Unidade Produtiva Isolada (UPI). O grupo tem três redes de varejo multimarcas — Paquetá, Gaston e Esposende (com lojas só no Nordeste) — e duas com marca única, Capodarte e Dumont. A marca Ortopé também pertence à empresa.
Carpena afirma que ainda há tratativas com fundos de private equity (que compram partes de empresas) para avançar em negociações assim que a recuperação judicial for aceita.
— Como a Paquetá vinha em cenário financeiro mais complexo, para se financiar ficava na mão de poucos, que cobram muito. Uma RJ abre portas para deep finance, no meio jurídico credores e fornecedores que auxiliam na recuperação da empresa. Estamos fazendo uma reestruturação para colocar de pé um plano de expansão da empresa.
Quando um investidor ou fundo empresta dinheiro para uma empresa já em RJ, detalha, torna-se credor extraconcursal, ou seja, tem preferência para receber caso o plano de recuperação não dê certo. Isso baixa o custo de obtenção de recursos. Mas Carpena ressalva:
— A empresa não está na fase de pedir recuperação para evitar uma falência. O principal objetivo é capitalização da companhia. Agora é que não vai quebrar.
Antes de apresentar o pedido de RJ à Justiça, a Paquetá comunicou importantes clientes, como Adidas e Asics, marcas para os quais produz tênis. Segundo o advogado, os contratos estão mantidos.
A companhia contratou uma consultoria de reestruturação para ajudá-la a negociar mudanças nas lojas e o levantamento de um empréstimo
As operações internacionais também estão em dificuldade, mas devem ser reestruturadas separadamente.
Os dias das blusinhas baratas podem estar perto do fim. A Forever 21, varejista voltada ao público jovem, está buscando maneiras de financiar sua operação e evitar a falência. A companhia contratou uma consultoria de reestruturação para ajudá-la a negociar mudanças nas lojas e o levantamento de um novo empréstimo, segundo o Wall Street Journal. Para continuar operando, a empresa precisaria de 150 milhões de dólares.
De acordo com o jornal, o fundador, o sul-coreano Do Won Chang, usou um empréstimo recém tomado do JP Morgan Chase para cobrir as perdas da companhia, mas ficou sem caixa para comprar novos produtos e abastecer suas lojas.PUBLICIDADE
As operações internacionais também estão em dificuldade, segundo a Bloomberg, mas devem ser reestruturadas separadamente. Em abril, a companhia anunciou que sairia do mercado chinês.
A varejista foi criada em 1984, pelo sul-coreano Do Won Chang, que juntou 11 mil dólares como lavador de pratos e frentista. A rede chegou a mais de 700 lojas pelo mundo, mas está sofrendo com quedas nas vendas depois de uma rápida expansão geográfica.
“A Forever 21, que divulga pouco sobre suas finanças, previu que as vendas subiriam 10% este ano, para US $ 4,7 bilhões”, escreve o Wall Street Journal. “Mas as pessoas familiarizadas com a empresa dizem que suas vendas e lucros diminuíram depois de anos de forte crescimento”.
A dívida soma mais de 500 milhões de dólares que vencem em 2022. A varejista vendeu sua sede em Los Angeles em fevereiro, por 166 milhões de dólares.
A chegada de novos concorrentes, como a H&M, Target e dezenas de varejistas online, pressionou a Forever 21 ainda mais. Com peças a preços muito baixos e de qualidade duvidosa, a marca se baseia em um consumo acelerado, com muitas compras anuais e um enorme desperdício. Concorrentes oferecem peças com uma qualidade ligeiramente maior por alguns dólares a mais.Veja também
Reestruturação do varejo
A Latham & Watkins LLP deverá ajudar a Forever 21 a negociar os termos de aluguel com os proprietários de suas lojas, enquanto a Alvarez & Marshal deve reestruturar as operações da companhia.
A Forever 21 não é a única preocupação dos proprietários dos espaços das lojas. Com os fechamentos recentes do apocalipse financeiro nos Estados Unidos, há muitos espaços vagos.
Com o aumento do comércio eletrônico e menos idas às lojas físicas, diversas varejistas voltadas ao público jovem enfrentam riscos de falência, como Aéropostale, Rue21 e American Apparel.
O “Apocalipse do varejo” já levou ao fechamentos de quase 6 mil lojas nos Estados Unidos esse ano, mais do que as 5,8 mil lojas encerradas no ano passado. Abercrombie & Fitch, Victoria’s Secret, JCPenney e Gap anunciaram o fechamento de centenas de lojas esse ano.
Apesar do cenário devastador, é só o começo. Um relatório do UBS acredita que mais de 75 mil lojas devem fechar na América do Norte entre 2019 e 2026.
O principal vilão das lojas físicas, nos Estados Unidos, é o comércio eletrônico. No Brasil, as lojas físicas impulsionam as vendas online e vice-versa, principalmente a partir da modalidade clique e retire, de retirada na loja do produto comprado pela internet.
No entanto, nem todas as companhias passam pelo mesmo sufoco. A modalidade de fast fashion, com novas coleções constante e grande apelo de moda, continua forte. A rival da Forever 21, H&M, apresentou crescimento de 10% nas vendas no primeiro semestre do ano. A companhia não tem lojas no Brasil.
Outras grandes companhias passam por recuperação judicial para evitar o mesmo destino
Em um intervalo de cinco anos, 30 empresas decretaram falência em Joinville, 11 delas somente no ano passado, como aponta um levantamento da Serasa Experian – expert em análises e informações de crédito e negócios. O total acumulado em 2018 é o maior desde 2014 e 22% superior à soma dos três anos anteriores, em que nove empreendimentos encerraram as atividades na cidade.
O maior salto das falências informadas em Joinville ocorreu justamente na virada para 2018, quando passou de um caso, em 2017, para os 11 registrados entre janeiro e dezembro últimos.PUBLICIDADE
Na tentativa de se reestruturar, também nesses cinco anos foram feitos 33 requerimentos de recuperação judicial no município. No mesmo período, houve ainda 28 pedidos de recuperação deferidos e oito concedidos pela Justiça. Em 2018 foram três requerimentos, três deferimentos e duas concessões.
Por enquanto, em 2019 o número de solicitações e de baixas estancou e ainda não foram contabilizadas novas falências ou mesmo pedidos de recuperação de companhias joinvilenses.
Uma empresa não quebra de um dia para o outro.
A causa
Para João Martinelli, presidente da Associação Empresarial de Joinville (Acij), talvez o fator determinante ao crescimento dos pedidos de recuperação ou mesmo a falência de empresas nos últimos anos decorre dos desdobramentos da recessão econômica. “O reflexo dos números no ano passado nada mais é do que o desfecho da crise que se arrastou de 2015 a 2017”, avalia.
— Uma empresa não quebra de um dia para o outro, ou seja, há muitas empresas ainda que por reflexo da crise estão tentando se recuperar. Então, assim como uma empresa não se recupera da noite para o dia, ela também não quebra. Ela vai acumulando prejuízos, depois acaba realmente tendo que decretar falência ou entrar em recuperação judicial. 2018 traz este reflexo — afirma.
Apesar disso, o líder empresarial destaca que desde 2014 a média de falências é de seis empresas por ano, algo que no universo de companhias joinvilenses - hoje entre três e quatro mil empreendimentos - não chega a ser tão significativo. Em contrapartida, o que chama a atenção são as grandes baixas no período, de grandes empregadoras como a Busscar e a Duque, essa ainda em recuperação judicial.
— O que causa impacto são essas companhias maiores, que detinham milhares de empregos —ressalta.
Novo momento
Na avaliação do especialista em recuperações judiciais, Agenor Daufenbach Júnior, as empresas joinvilenses que enfrentam o processo de reestruturação têm se mostrado mais confiantes com o início do novo governo. “Há estabilização do câmbio, a própria bolsa de valores crescendo, então esse ambiente econômico está mais confiante embora o crescimento, em números, ainda seja pouco substancial”.
— Isso não vem se refletindo ainda muito em números, mas as empresas em si estão estáveis e todas as que visitamos visualizam melhora para o futuro — destaca.
João Martinelli mantém opinião parecida.
— Daqui para a frente, nós vamos verificar um número muito menor (de falências), porque as empresas que não quebraram ou que estão em recuperação judicial com certeza vão se valer de um mercado melhor, de uma economia melhor, para poder se reerguer.
Grandes empresas enfrentam recuperação judicial
Em Joinville, nesta última década grandes empresas estiveram ou ainda estão envolvidas em processos de recuperação judicial. Talvez o maior exemplo é o da antiga Busscar, que teve falência decretada em 2012, com dívidas que superavam R$ 1,6 bilhão. A massa falida da empresa foi vendida para um grupo de investidores, entre eles os sócios da Caio Induscar (uma das principais fabricantes de carrocerias de ônibus do País), e voltou a operar. Porém, ainda hoje, cerca de seis mil credores têm valores a receber.
De acordo com o administrador judicial da massa falida da empresa, Instituto Professor Rainoldo Uessler, o valor atual da dívida ainda está sendo contabilizado, uma vez que continuam sendo levantados os valores conseguidos com a venda de bens da companhia e também devido à dependência de impugnações de crédito pendentes na Justiça, entre outros.
Outros processos conhecidos e ainda em curso são o da Wetzel S.A, atuante nos segmentos automotivo, de eletroferragem e instalações elétricas, e da metalúrgica Duque S.A. Ao lado de outros sete empreendimentos, as duas companhias têm suas recuperações acompanhadas pela Gladius Consultoria.
O escritório também administra as recuperações das joinvilenses Manchester Logística Integrada/Manchester Empreendimentos Imobiliários; Indústria de Máquinas Eldorado; Juane Alimentos e Bebidas/Congevin Alimentos e Bebidas; Athletic Way Comércio de Equipamentos para Ginástica e Fisioterapia; Vogelsanger; e Interativa Indústria e Comércio de produtos reciclados LTDA.
Segundo o administrador judicial e sócio da Gladius, Agenor Daufenbach Júnior, no caso da Wetzel, que teve o plano de recuperação aprovado em junho de 2017, a empresa está cumprindo o planejado.
— A Wetzel voltou a crescer e já está novamente com mil funcionários, tem uma boa expectativa de crescimento na área de eletrotécnica, inclusive atendendo especialmente a área da construção civil. Visitei a empresa há duas semanas e o cenário é otimista — revela o advogado.
Já a Duque passa por procedimento atípico e tem seu processo de recuperação arrastado desde 2014, chegando inclusive a ter falência decretada e anulada pela Justiça no período. Nesta quinta-feira (14), a metalúrgica apresentou nova proposta aos credores em assembleia.
— A Duque enfrenta uma situação mais delicada quanto à recuperação, porque não conseguiu cumprir aquele plano inicial. O magistrado permitiu que os gestores apresentassem um novo plano, embora a empresa esteja parada há um ano — explica Agenor.
— Este (novo) plano não prevê em linhas gerais o retorno da atividade, prevê que se faça nascer uma nova empresa, chamada UPI - Unidade Produtiva Isolada, destinada à exploração imobiliária do imóvel da Duque para que esse dinheiro seja destinado aos credores. É a proposta que eles terão que estudar (nesta quinta) — conclui.
Mais um exemplo, este sob consultoria de Rogério Dantas, da RND Consult LTDA, é o processo de recuperação envolvendo a Douat Têxtil. “O processo da companhia encontra-se em gabinete, aguardando realização de nova Assembléia Geral de Credores para deliberação quanto a alterações no Plano de Recuperação Judicial”, aponta o advogado Marcelo Reinhold.
Entenda a recuperação judicial
Medida tomada para evitar um possível processo de falência e recuperar a sustentabilidade das companhias, o pedido de recuperação judicial é feito em juízo e segue a Lei 11.101/2005. Geralmente a solicitação ocorre com o objetivo de preservar as atividades produtivas e econômicas do negócio, quando o mesmo enfrenta dificuldades financeiras e não consegue honrar suas dívidas com credores.
Se aprovado, o deferimento da proposta representa o escalonamento desses débitos e a empresa deve seguir um plano de recuperação aceito pela maioria dos credores dentro do prazo de até dois anos - o pagamento dos acordos, no entanto, pode superar esse prazo conforme previsto no plano aprovado em assembleia. Caso descumpra as obrigações previstas, a companhia pode ter a falência decretada; e quando a manobra é bem sucedida é possível, por exemplo, sanar as dívidas e recuperar a confiança do mercado.
Endividada, Livraria Cultura pede recuperação judicial
A Livraria Cultura, uma das mais tradicionais do mercado, anunciou que entrou com pedido de recuperação judicial. A empresa vem sofrendo nos últimos anos com a crise que abateu o mercado editorial brasileiro, que encolheu 40% desde 2014.“Com essa medida visamos normalizar, em curto espaço de tempo, compromissos firmados com nossos fornecedores, preservando a saúde da empresa criada por Eva Herz em 1947, a manutenção de empregos e gerando mais estímulo para crescer”, informa.O cenário de crise, segundo a empresa, fez com que a livraria “passasse a enfrentar dificuldades”. “Infelizmente, após quatro anos de recessão, o cenário geral no país não apresenta sinais claros de melhoria.”Em nota, a Livraria Cultura informa que iniciou há três meses um “duro programa de ajustes”, que inclui fechamento de lojas, demissão de funcionários e redução de custos.A livraria não informa o montante da dívida, mas há relatos de atrasos no pagamento das verbas rescisórias dos funcionários demitidos da Fnac, rede comprada pela Cultura no ano passado. Hoje, a rede conta apenas com 15 lojas físicas. Todas as unidades da Fnac foram fechadas.Em nota, a empresa informa que já é hoje uma empresa mais eficiente para enfrentar os desafios do varejo na era do e-commerce. “Queremos atuar de forma agressiva nos canais digitais e, ao mesmo tempo, iremos manter poucas, mas ótimas lojas físicas pelo país.”O plano da empresa é contar com lojas que ofereçam mais que produtos e serviços. “(Que) Vendem experiências que transformam a vida do cliente. Estamos confiantes: acreditamos que a Livraria Cultura deu a largada para os próximos 70 anos.”
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