O megainvestidor Tim Draper já aportou em negócios como Hotmail, Skype e Tesla. Agora, procura oportunidades em terras brasileiras
Você talvez não conheça Tim Draper de nome. Mas deve acompanhar alguns negócios nos quais o investidor aportou: Baidu, Foursquare, SolarCity, SpaceX, Tesla, Twitter e Tumblr são apenas alguns deles.Tim Draper começou sua carreira investidora em 1985, ao criar o fundo Draper Fisher Juvertson. Desde então, vem construindo seu portfólio de investimentos. A parte de negócios iniciais da DFJ, conhecida como Draper Venture Network, já realizou mais de 450 investimentos em mais de 60 cidades.Desses aportes, 24 resultariam em startups “unicórnios” – empreendimentos avaliados em mais de um bilhão de dólares (na cotação atual, 3,15 bilhões de reais).Draper também acumulou outras apostas excêntricas ao longo de sua carreira: ele ganhou um leilão de 30 mil bitcoins do site ilegal de drogas Silk Road; lançou um projeto para dividir a Califórnia em seis estados; e inaugurou uma escola para empreendedores promissores inspirando-se nas séries Harry Potter e X-Men.Hoje, a Draper Venture Network administra atualmente o equivalente a cerca de 1,6 bilhão de dólares em negócios. A fortuna de Tim Draper é avaliada em mais de um bilhão de dólares.A nova aposta do megainvestidor está na América Latina: ele criou uma nova rede de investimento, chamada Draper Venture Network Beta, apenas para startups em estágio inicial da região. No Brasil, a DVN Beta fez uma parceria com a aceleradora ACE, com sede em São Paulo, permitindo que negócios inovadores nacionais possam ter acesso a investidores globais.EXAME.com conversou por telefone com Tim Draper e Gabe Turner, um dos diretores da Draper Venture Network, para saber mais sobre o ecossistema empreendedor brasileiro e sobre as oportunidades de investimento durante uma recessão econômica.Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:EXAME.com – Você poderia começar falando um pouco do seu histórico como investidor de startups?Tim Draper – Eu estou há 30 anos nesse mercado. É algo que vem de família: meu avô era um investidor, e meu pai também era um investidor. Nós fundamos algumas empresas muito interessantes quando elas ainda estavam no começo, como Hotmail, Skype e Tesla. Nós também aportamos em quase 30 unicórnios ao longo desses 30 anos.Tenho no meu sangue essa coisa de investidor, e me comprometi com a missão de espalhar o empreendedorismo e o investimento em empreendimentos de risco pelo mundo. Eu realmente me satisfiz com os resultados que obtive, e estamos animados com a Draper Venture Network Beta, que é a forma que encontramos para continuá-la. Saiba mais: veja com a Mandaê 5 lições de empreendedorismo que você só aprende do jeito difícil Patrocinado EXAME.com – Qual a missão da Draper Venture Network Beta, de forma mais detalhada?Tim Draper – A Draper Venture Network possui vários programas, que reúnem vários investidores de todo o mundo. Nós compartilhamos as melhores informações e práticas, e com isso passamos a entender como muitos mercados funcionam – ou seja, a forma que suas startups operam e quais setores são os mais fortes.Então, quando vimos a oportunidade de fazer uma grande diferença nesse mundo do empreendedorismo, criamos a Draper Venture Network Beta e começamos a visitar lugares promissores para criar ecossistemas. A grande ideia é que eles possam se tornar tão extraordinário quanto o Vale do Silício.Gabe Turner – De forma mais prática, o propósito da DVN Beta é conectar fundos americanos com fundos de qualquer parte do mundo, compartilhando acordos de investimento e expertises. Nós não teremos um programa de aceleração, incubação ou investimento, e sim mostraremos as melhores oportunidades por meio de nossos parceiros, como a ACE no caso do Brasil.
EXAME.com – Qual a percepção da DVN Beta sobre o mercado de startups brasileiro? Vocês veem oportunidades de investimento? Em quais setores?Tim Draper – Temos visto uma onda de empreendedores brasileiros que tentam fazer algo interessante acontecer. O Brasil se tornou um lugar quente para o empreendedorismo e é um exemplo do que acontece em diversas partes do mundo: com dificuldades econômicas, entraves governamentais e problemas em geral, o empreendedorismo floresce.Os brasileiros sentem que, se o sistema não está trabalhando para eles, é preciso criar algo novo. É a partir daí que surgem os melhores empreendedores. Nós achamos que é um dos melhores momentos para ir ao Brasil e criar um ecossistema empreendedor.Gabe Turner – Nos últimos anos, nós conversamos com entidades como Endeavor e Silicon Valley Bank. O que nos surpreendeu é que, apesar das dificuldades econômicas dos últimos anos, o empreendedorismo floresceu e está florescendo.As grandes empresas procuram otimizar custos, o que envolve tecnologia, e seus fundadores falaram conosco que o país estava em péssimo estado. Mas, quando mostraram seus números, eles estavam indo razoavelmente bem em termos de crescimento. Nós concluímos que é um bom sinal essas empresas estarem indo bem mesmo durante uma recessão. Quando a economia realmente virar, essas companhias serão igualmente propulsionadas.EXAME.com – Então, tempos de crise econômica são os melhores para criar novas ideias?Tim Draper – O Brasil está passando por uma situação financeira complicada, e as pessoas começam a perder confiança no governo, na sua moeda, nos seus negócios. Um país de turbulência política é uma ótima oportunidade para quem quer testar novas ideias e não ser esmagado pelas regulações. Assim, o país pode dar grandes saltos de progresso.Já estivemos na China, por exemplo, e percebemos como algumas regiões passaram de não ter comunicação telefônica para os smartphones, sem passar pela época de cabeamento e telefones fixos. Acho que o Brasil pode ter uma atitude similar.Enquanto isso, nos Estados Unidos, se alguém lançar uma empresa de drones, vai ter de passar por reclamações de vizinhos, negociações com aeroportos e toda uma série de regulações por conta de sua grande estabilidade.Em tempos de crise, as pessoas também possuem uma mente mais aberta: quando as pessoas possuem um emprego estável, as mentes se fecham e não há o desejo de experimentar novos produtos. Afinal, tudo funciona e os consumidores estão bem. Isso dificulta o trabalho do empreendedor e pode gerar estagnação.Fonte: Exame