Startup lança no Brasil a NotMayo, uma maionese amigável aos animais e 
popular até entre quem prioriza o sabor.

Startup lança no Brasil a NotMayo, uma maionese amigável aos animais e  popular até entre quem prioriza o sabor (Foto: Divulgação)

Quando montou a sua primeira empresa de alimentos veganos, o chileno Matias Muchnick não imaginava que, dali a cinco anos, viraria referência mundial em produtos livres de ingredientes de origem animal — nem que chegaria tão brevemente ao Brasil. Até porque começou mal. A maionese que ele lançou na época tinha um sabor horrível, embora tivesse sido desenvolvida por uma empresa conhecida por criar produtos para multinacionais do setor alimentício. “Aí eu vi que muito do P&D [pesquisa e desenvolvimento] de alimentos está baseado em intuição humana”, diz Muchnick, de 30 anos.

Num mundo cada vez mais regido por avanços tecnológicos, era inconcebível para o empresário que o P&D pudesse estar tão atrasado. Formado em economia, ele buscou respostas na Universidade da Califórnia em Berkeley. Lá fez um curso de empreendedorismo e tecnologia, no Sutardja Center, e se aproximou do departamento de bioquímica. Percebeu que, assim como a indústria farmacêutica, a de alimentos também poderia fazer uso da ciência de dados para aprimorar seus produtos.

Com essa convicção, Muchnick foi atrás de gente gabaritada para montar com ele um negócio novo. Primeiro, recrutou em Harvard Karim Pichara, um chileno Ph.D. em ciência da computação que curtia astrofísica. Depois, convidou o também chileno e doutor em biotecnologia Pablo Zamora.

A NotMayo usa composto vegetal no lugar dos ovos

O trio criou a NotCo, uma foodtech que usa I.A. para encontrar em vegetais fórmulas similares às dos alimentos de origem animal. Para substituir o ovo, a startup usa uma mistura de ervilha, grão-de-bico e tremoço, entre outros ingredientes naturais, que está longe de ser insossa. Tem cor, sabor e textura iguais aos de uma maionese comum. “Nossa proposta é que as pessoas comam melhor e sejam sustentáveis sem se dar conta disso”, afirma Muchnick.

Embora o interesse por produtos veganos aumente a cada ano, impulsionado por pesquisas que citam a criação de rebanhos como grande emissora de gases do efeito estufa, ele acredita que a adesão dos consumidores ao veganismo poderia ser muito maior se esses alimentos fossem mais saborosos.

No caso da maionese da NotCo, há mais sabor embutido do que consciência ecológica — tanto que 92% dos seus compradores não são veganos. Ou seja, não estão preocupados com a presença ou não do ovo ou com o impacto da produção do alimento no meio ambiente, mas acham interessante o produto “feito com ingredientes vegetais e ponto”, como diz a embalagem.

A maionese de Muchnick tornou-se um fenômeno no Chile, onde está presente em mais de mil lojas e é a terceira mais vendida, atrás das marcas Hellmann’s e Kraft. A startup produz 85 toneladas por mês e, além do Brasil — que recebeu a primeira leva do produto em dezembro —, exporta para a Argentina e a Colômbia. “Em dois anos, o Brasil será o nosso principal mercado”, espera Muchnick. A empresa planeja iniciar a produção local, no interior de São Paulo, em março.

A maionese não será a única aposta dos chilenos. O laboratório de Muchnick está desenvolvendo leite, sorvete, iogurte, linguiça e hambúrguer veganos. Para dar conta de tantos lançamentos, a startup cresceu de 14 para 60 funcionários no último ano, e passou a funcionar em três turnos, sete dias por semana, respaldada por investimentos recebidos da Kaszek Ventures (US$ 3 milhões) e da aceleradora IndieBio (US$ 250 mil). Prepara-se, agora, para captar um novo aporte milionário que banque a expansão da empresa para os EUA e o México.

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