Neste novo modelo, o lucro deixa de ser o objetivo número um de uma empresa, que passa a existir para cumprir um propósito que faça a diferença na vida das pessoas
O capitalismo sustentado pelo lucro em primeiro lugar não se sustenta mais e tende a ser substituído por uma novo modelo econômico, onde a principal razão de existir de uma empresa não é mais o seu resultado financeiro, mas o seu propósito e a diferença que ela faz na vida das pessoas.
Esta nova forma de pensar e administrar os negócios, chamada de capitalismo consciente, foi discutida na última palestra do segundo dia da Expogestão, nesta quinta-feira, em Joinville. Abordaram a questão André Kaufmann, presidente doInstituto Capitalismo Consciente Brasil, e Fernando Fernandez, presidente daUnilever Brasil.
De acordo com Kauffmann, o capitalismo consciente busca a prosperidade de uma maneira humanizada, equilibrando resultados financeiros e sustentabilidade. Esta bandeira, já defendida por empresas como BMW, Starbucks, Harley-Davidson, Google, Timberland, Whole Foods e Amazon, é fruto de uma evolução do comportamento do consumidor.
— As pessoas, hoje, têm mais senso crítico e vivem mais em harmonia com a natureza. Elas estão mais conscientes. E o sistema capitalista, no geral, ainda não percebeu isso — disse Kaufmann.
Alguns pilares ajudam a entender como uma empresa promove o capitalismo consciente. O primeiro deles é o propósito. O lucro não deixa de ser importante, mas não é mais o principal objetivo de uma companhia, que passa a se dedicar a um objetivo específico, relacionado quase sempre à melhoria da qualidade de vida — funcionando como um agente transformador da sociedade.
Neste novo modelo, todos os que participam ou usufruem de uma empresa (funcionários, fornecedores e a sociedade geral) têm benefícios semelhantes e crescentes, não apenas os acionistas. Um terceiro ponto é a figura do líder consciente, responsável por conduzir a companhia pelas melhores práticas.
O conceito é recente. Surgiu nos Estados Unidos e chegou no Brasil há apenas sete anos. De acordo com Kaufmann, poucas empresas ainda se encaixam no modelo. O objetivo do Instituto Capitalismo Consciente não é apontar às organizações uma maneira melhor de conduzir os negócios, mas apresentar uma nova alternativa, que pode aliar resultados com equilíbrio sustentável.
É exatamente isso que a Unilever vem tentando fazer. Fernandez lembrou que o consumo mundial, hoje, excede a capacidade de regeneração da natureza – situação que tende a piorar. Ele apresentou detalhes de como a empresa pretende dobrar de tamanho até 2022 reduzindo seu impacto ambiental e aumentando seu impacto social. Uma das ações, por exemplo, define que 100% da matéria-prima utilizada em seus produtos seja sustentável, com origem em pequenos produtores.
— Nosso plano é melhorar o bem-estar, reduzir o impacto ambiental e promover a qualidade de vida. Queremos melhorar um pouquinho a vida das pessoas todos os dias. Hoje, na Unilever, não há nenhuma marca que não tenha um propósito social e sustentável — disse.
Como exemplo, Fernandez apresentou um vídeo de uma ação desenvolvida pela marca de margarinas Becel. Durante três semanas, agentes da empresa se propuseram a diminuir o colesterol de integrantes de uma comunidade. Conseguiram em 80% dos casos.
— No capitalismo consciente, as empresas fazem bem à comunidade e têm melhores resultados — finalizou.