José Luiz Gandini, presidente da Kia Motors no Brasil critica limitação de importação de automóveis imposta pelo governo e diz que o Inovar-Auto é “praticamente uma proibição” de se trazer carros de fora do País
A Kia Motors vai abrir uma nova revenda de carros em Joinville. A unidade será instalada na rua 15 de Novembro, próxima a outras lojas de veículos, aumentando o número de revendas já em funcionamento naquele núcleo de negócios voltado ao segmento.
O imóvel tem 3 mil m², dos quais 2,5 mil m² serão construídos para abrigar o empreendimento. A empresa ainda espera pelos licenciamentos pedidos à Prefeitura para poder começar as obras. O investimento total será de R$ 7 milhões.
A informação é do presidente da montadora, José Luiz Gandini, em entrevista exclusiva a Negócios & Cia. realizada nesta semana. O líder percorreu concessionárias de quatro cidades catarinenses na última terça-feira: Joinville, Jaraguá do Sul, Blumenau e Florianópolis. E explicou as dificuldades de competir com concorrentes que têm fábricas no País. A Kia fechou 19 revendas nos últimos quatro anos.
O executivo veio para a entrevista trajando roupa informal, de calça jeans e camisa social branca. A conversa, de 45 minutos, foi no restaurante do Hotel Blue Tree Towers.
A Notícia – O que o trouxe a Joinville nesta terça-feira?
José Luiz Gandini – De tempos em tempos, visito as concessionárias. Quero ter informações e ter feeling pessoal do que acontece, conhecer o consumidor de perto. Há grandes diferenças regionais no comportamento das pessoas. O Brasil é muito diverso. Se não mantiver este contato, fica mais difícil compreender estas diferenças.AN – Visitar clientes e lojas é ainda mais importante em um ano de forte recuo dos negócios…
Gandini – As vendas de automóveis caíram 25,9% no ano. O veículo importado foi o mais prejudicado, o que é o nosso caso. O Programa Inovar-Auto, do governo federal, é praticamente uma proibição de se trazer carro importado.AN – Então o Inovar-Auto é uma forma de proteção ao conteúdo nacional?
Gandini – Sim. É uma proteção à indústria com fábricas no Brasil. São consideradas brasileiras. Mas as montadoras com fábricas aqui – Ford, Volkswagen, Fiat, General Motors e tantas outras – produzem veículos no País e remetem lucros para suas matrizes no exterior.AN – Houve diálogo com o governo?
Gandini – Em conversa com o então ministro Fernando Pimentel, disse-lhe, à época, que a limitação de importados em 400 carros por mês (4,8 mil por ano) é inadequada.AN – Essa limitação foi injusta para com os importados?
Gandini – Compare. No nosso caso, a Kia vendeu aproximadamente 52 mil carros ao ano no biênio 2011-2012. Bem mais do que os 4,8 mil por ano, impostos a nós, a partir do Inovar-Auto. Agora, as concessionárias vendem 1,8 mil carros por mês, o que dá algo em torno de 20 mil no ano.AN – Agora, então, com o dólar…
Gandini – Com o dólar a R$ 3,20, fica muito mais difícil vender. Para se ter uma ideia dos problemas, em 2011 tínhamos 151 revendas de carros. Neste ano de 2015, temos 132 concessionárias no Brasil. Fechamos 19 em quatro anos. Cada revenda emprega, em média, 20 pessoas. O mercado para o produto importado diminuiu, sim.AN – O que se pede ao governo agora?
Gandini – Pedimos o aumento da cota de importação. Pelo menos 12 mil veículos por ano. O governo oferece 400 por mês, ou 4,8 mil por ano. Isso é muito pouco.AN – Neste ambiente, há possibilidade de a Kia construir fábrica no Brasil?
Gandini – Por enquanto, não. Houve um problema importante no passado. A Ásia Motors tem uma dívida de US$ 2 bilhões. Coisa do passado distante. Não é dívida da Kia. Mas como o governo entende que a Kia é sucessora da Ásia no País, primeiramente temos de superar esta situação para, só depois, pensar em fábrica aqui.AN – Quais são os planos da Kia para crescer?
Gandini – Estamos com o Projeto KX3, que é uma fábrica no México. Fica pronta em maio de 2016. Lá, faremos um modelo atualizado do Cerato e o Kia Rio. A previsão é de que estes produtos cheguem ao Brasil em junho do próximo ano. Antes, daqui a dois meses, em agosto de 2015, vai chegar aqui o novo Sorento (somente na versão seis cilindros) e a nova Kia Carnival, reestilizada.AN – Como o senhor avalia a atuação do governo?
Gandini – Há uma crise de confiança na presidente Dilma. Empresariado nenhum quer investir quando vê o que acontece no País. Assusta-se com a corrupção. Não dá mais para aceitar isso.AN – O futuro será melhor?
Gandini – O Brasil vai passar essa fase. Não estamos no fim do poço. Até agosto vai ficar ruim. Depois, vai melhorar. O pior já está acontecendo.AN – E no campo da política?
Gandini – O brasileiro tem memória curta. O impeachment (da presidente Dilma) não vai acontecer. Não há como. O Levy (ministro da Fazenda Joaquim Levy) ajudou muito. O que precisa é a Dilma separar as coisas. Ela tem que cuidar da ação política e deixar a economia para quem entende. Levy entende.AN – A Kia faz investimento em mídia e publicidade para divulgar seus produtos?
Gandini – Há uma redução drástica nos investimentos em mídia neste ano. A Kia patrocina a novela das 9 da Rede Globo. Esta será a última novela que vamos patrocinar. O contrato é feito bem antes de começarem as gravações dos capítulos que vão ao ar. O público está migrando para outras mídias.AN – Então para onde se direciona o dinheiro para publicidade?
Gandini – Nós estamos investindo, prioritariamente, na internet. É essencial estar na internet para se comunicar com um público que procura, rapidamente, informações em sites variados.AN – O que motiva o consumidor a comprar um carro?
Gandini – Fazemos pesquisa com os consumidores. Parte deles é o que classificamos de comprador técnico: aquele que analisa potência, torque e velocidade máxima, entre outros itens. Ele avalia dados técnicos dos carros para decidir pela compra ou não. A grande maioria compra pela emoção. Ele vê o carro e compra se gostou. Automóvel é emoção. Ainda é emoção.AN – Qual é a participação da concessionária Power Imports sobre as vendas da Kia no Brasil?
Gandini – A Power Imports tem seis lojas em Santa Catarina, inclusive em Joinville. É a segunda maior revenda da marca no País. Os negócios dela representam 5,5% do total dos negócios da montadora. Está há 22 anos no mercado.Fonte: Confira quais são os planos da Kia no Brasil – Negócios e Cia – A Notícia