A Spacecom monitora cerca de 20 mil infratores, alguns deles presos pela Operação Lava-Jato
O sistema carcerário brasileiro permite que seus infratores não fiquem em presídios, por estarem em regime aberto, semiaberto, prisão domiciliar ou contemplados com saídas periódicas. Dependendo do caso, o criminoso não pode ultrapassar uma área determinada ou sair de casa à noite. Mas como saber se tais regras estão sendo cumpridas?
A Spacecom existe desde 2003. Foi criada pelo engenheiro de produção Sávio Bloomfield, 55 anos, e nasceu para criar soluções para operadoras de telefonia, como a criação de serviços de VoIP, que permite fazer ligações usando a internet, e atendentes eletrônicas.
Em 2008, a empresa entrou oficialmente no mercado de tornozeleiras. “Percebemos que o produto poderia contribuir para a melhora do sistema prisional brasileiro. Com ele, evitamos a superlotação. Também fazemos com que autores de crimes leves não se misturem com criminosos graves e sejam influenciados por eles”, diz Bloomfield. A empresa foi uma das primeiras a oferecer o serviço no país.
Por dois anos, a Spacecom apresentou a tecnologia a secretarias estaduais de segurança de todo o país. Enfrentou certa resistência a princípio. “As pessoas não conheciam a solução e duvidavam dela. Então fazíamos várias apresentações para mostrar a tornozeleira funcionando e provar que o dispositivo era eficaz”, afirma o criador da empresa. O primeiro estado a contratar a Spacecom foi São Paulo, em 2010.
As tornozeleiras da empresa são conectadas a um centro de monitoramento em Curitiba. Caso o prisioneiro ultrapasse o perímetro em que deve ficar ou esteja fora de casa em um determinado horário – ou a qualquer momento, em caso de prisão domiciliar – a Spacecom é notificada e informa as autoridades competentes.
Segundo Bloomfield, as tornozeleiras também informam a central de monitoramento em caso de rompimento do dispositivo. O mesmo acontece se o equipamento desligar por alguma razão. Além disso, retirar a tornozeleira sem abri-la é impossível. “Nunca houve nenhuma fuga causada por uma falha da tornozeleira ou da nossa central.”
Atualmente, a Spacecom monitora 20 mil presos em 16 estados. Todas as vendas da Spacecom são feitas por meio de licitações, sendo que a maioria é realizada na esfera estadual. A exceção é o acordo que a empresa tem com a Polícia Federal da região Sul do país – exatamente o órgão responsável pela Operação Lava-Jato, responsável pela investigação e prisão de envolvidos em casos de corrupção.
Desde que a Lava-Jato começou a atuar, alguns detentos usaram as tornozeleiras. O usuário mais recente da tecnologia foi o pecuarista José Carlos Bumlai, que, por motivos de saúde, está em prisão domiciliar desde março. No entanto, quando perguntado sobre o número de prisioneiros da Lava-Jato que usam suas tornozeleiras, Bloomfield afirma que não sabe quem são os usuários. “Não sei o nome de ninguém, seja dos presos da Polícia Federal ou seja de qualquer estado que use a nossa tecnologia.”
De acordo com o empreendedor, a Lava-Jato não fez com que a receita da Spacecom disparasse, mas deu mais visibilidade à empresa. “Nós negociamos com vários estados desde 2008. Somos conhecidos por eles desde antes da operação. Mas conforme a operação da Polícia Federal foi avançando, o nome da empresa se tornou mais conhecido das pessoas”, afirma Bloomfield.
A Spacecom não revela seu faturamento. No entanto, Bloomfield diz que as metas são oferecer seus serviços a mais estados brasileiros e firmar contratos no exterior. “Estamos em fase de negociação com países da América Latina.”