Tecnologia de gestão inteligente de energia pode levar eletricidade às regiões remotas ou de baixa densidade demográfica
A falta de acesso à eletricidade é um problema que atinge uma em cada sete pessoas em todo o mundo, segundo dados do Banco Mundial. A situação não é muito diferente no Brasil. Um levantamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), divulgado este ano, revelou que ainda existem 1 milhão de residências sem luz no país, principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
Isso acontece porque a construção de linhas de transmissão em regiões de baixa densidade demográfica não costuma ser economicamente viável. Dessa forma, a energia produzida nas principais hidrelétricas e termelétricas do país não chega a todos os brasileiros. Para resolver o problema, estabelecer uma produção de energia próximo ao centro de consumo ou nas residências é uma boa alternativa.
Fontes renováveis, como a solar ou a eólica, têm ganhado força no mercado. Mas como manter a luz em uma residência em dias sem vento ou sol, por exemplo? Para isso, é preciso ter um microgrid, ou seja, uma rede de distribuição de energia que conta com uma ou mais fontes de geração. A estrutura é capaz de gerir toda a produção de eletricidade. Softwares sofisticados ajudam a coordenar as fontes para evitar variações na tensão e quedas de energia.
“Imagine uma rede com equipamentos geradores de energia solar, eólica e de combustão de óleo diesel. De qual fonte as máquinas vão buscar energia? O microgrid examina qual está mais estável, dá preferência às fontes renováveis e faz o fornecimento final com qualidade para o consumidor”, diz José Roberto Soares, professor de engenharia elétrica da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Se um hospital está em uma região isolada, não dá para depender apenas de energia eólica ou solar. Se não tem sol, usa-se o vento. Caso não haja vento, opta-se pelo diesel.”
Além de garantir o fornecimento de energia, o microgrid ajuda a reduzir a emissão de poluentes porque fontes não renováveis, como o óleo diesel, são usadas apenas em momentos de necessidade energética. A mudança na gestão de energia também afeta diretamente os consumidores, que se tornam independentes e passam a ter acesso a uma energia de melhor qualidade.
Energia de sobra
Os microgrids têm ganhado popularidade em indústrias, grandes edifícios comerciais, bases militares ou lugares com infraestruturas críticas, como data centers, que não podem enfrentar grandes variações na tensão da energia. Mas o interesse na independência energética também atinge os usuários finais, que têm procurado sistemas para instalar em suas residências.
Veja o caso da Eletrobras Distribuição Acre, que presta serviços públicos de energia elétrica para o estado do Acre e instala equipamentos de gestão inteligente de energia a pedido dos consumidores. A companhia viu a demanda crescer após a resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que dá incentivos aos consumidores que se tornaram produtores de energia. “A procura por empresas de engenharia para instalar projetos de energia sustentável tem crescido, e nós da concessionária sentimos um aumento na demanda por informações”, explica André Domingos Klein, gerente do departamento de medição da Eletrobras Distribuição Acre.
Se antes era preciso investir muito dinheiro e se desligar da rede principal para ter um painel solar em casa, por exemplo, hoje é possível produzir sua própria energia e continuar conectado à concessionária. “Quando o consumidor gera mais energia do que consome, o microgrid faz com que o excedente seja inserido na rede da concessionária. Essa energia será usada por outras pessoas, e o consumidor que a produziu recebe um desconto nas próximas contas de luz.”
Fonte: Exame