Lisabeth Braun queria novos ares profissionais e criou a primeira farmácia de manipulação do Brasil, nos anos 70: a Dermage.

O fusca era verde abacate, carro da moda no final dos anos 70. A motorista era farmacêutica e funcionária pública, mas sonhava com novos horizontes profissionais.

Se o fusca de Lisabeth Braun falasse, ele contaria uma história bem inusitada para uma jovem daquele tempo, quando era incomum ver mulheres empresárias, menos ainda de um negócio novo e praticamente desconhecido no mercado nacional.

Mas o carro só saberia o começo de tudo, porque a primeira coisa que ela fez foi vender seu carro para investir na primeira farmácia de manipulação do país, no Rio de Janeiro. Lá se foi o fusca em busca de outras histórias para contar, e então começou o que seria uma jornada de grande sucesso, que resultou na criação da Dermage.

De farmacêutica a empreendedora

Lisabeth trabalhava em um hospital público no Rio de Janeiro. O emprego parecia perfeito, com jornada reduzida em um ambiente de ponta. Mas ela começou a sentir um grande desânimo quando percebeu que as pessoas, com vinte anos de formadas, continuavam a fazer as mesmas coisas.

Foi quando ela viajou para Buenos Aires e conheceu uma farmácia de manipulação, coisa inédita no Brasil, e a visão empreendedora da família se manifestou.

Lisabeth e Walter Braun, seu marido, são descendestes de imigrantes que chegaram ao Brasil sem recursos, fugidos da 2ª Guerra Mundial e também empreenderam e montaram seus negócios.

Empolgada com as novas perspectivas e com total apoio do marido, a farmacêutica bioquímica Lisabeth pediu demissão e alugou uma pequena sala comercial, onde, com uma sócia, deu seus primeiros passos como empreendedora. Fase em que ela fazia literalmente um pouco de tudo: do plano de negócios ao atendimento no balcão, do contato com os médicos à manipulação das fórmulas.

Da pequena sala, onde ela via as pessoas chegarem, sem acreditar em quantos pedidos recebia, o negócio foi crescendo e logo a farmácia teve que mudar para uma casa maior. Em seguida, vieram outras três lojas.

Ao mesmo tempo, Lisabeth vivia o cotidiano agitado de toda mulher que trabalha: “Era a idade em que eu queria ter filhos, ter minha família, tudo acontecendo ao mesmo tempo, tinha que me dividir para que tudo desse certo”.

E deu certo, tão certo que ela começou a sonhar cada vez mais alto.  Depois de alguns anos, Lisa, como é chamada, e sua sócia resolveram se separar para seguir com novos planos.

Duas vezes empreendedora

Começou então uma nova jornada empreendedora para Lisa. O ano era 1990, e o mundo empresarial já era mais familiar e menos inóspito para mulheres.

Difícil mesmo foi explicar a novidade para o mercado, porque a proposta era realmente começar tudo de novo, com um novo nome (Dermage), um novo logotipo… Enfim, uma nova empresa. Ela fez questão inovar e fazer diferente, mas sempre seguindo os valores que sempre nortearam seu trabalho, marcado pela dedicação, honestidade e credibilidade junto à classe médica. Por isso, “acabou sendo mais fácil do que eu imaginava”, diz ela.

E aí surgiu uma grande ideia: por que não industrializar as fórmulas de sucesso e transformar a empresa em uma marca de dermocosmético? Esse foi o grande diferencial da Dermage, que logo foi reconhecido pela classe médica.

Outra escolha acertada foi cercar-se de pessoas com habilidades complementares e de profissionais das áreas administrativa e financeira muito qualificados, que se dedicaram à gestão de um negócio preparado para realizar os sonhos grandes de sua idealizadora.

Mesmo assim foram – e ainda são – muitos os percalços enfrentados num país que atravessou várias crises e planos econômicos. Nessa jornada, foram muitas noites sem dormir, pensando em como seria o dia seguinte e muita resiliência também para atravessar tantos obstáculos.

Mas, desde o início, Lisa mantém a mesma garra e otimismo: “Você tem que ter um estofo emocional muito grande para conseguir, você tem que estar sempre bem, porque a sua motivação, o seu trabalho, é modelo para os outros que estão à sua volta”.

Apesar desse cenário de dificuldades de toda ordem, que para muitos seria desanimador, Lisabeth sempre investiu na Dermage. A empresa cresceu; o marido, Walter, engenheiro, assumiu a diretoria de produção; e, juntos, eles criaram uma empresa inovadora no mercado de dermocosméticos.

Sucessão familiar

Depois de passar as férias trabalhando na empresa da família, Ilana Braun, filha de Lisa, se empolgou com as oportunidades de fazer algo muito maior, largou o emprego no mercado financeiro e passou a empreender junto com seus pais. Logo no início, aproximou-se da Endeavor e se cercou de mentores que mostraram novas frentes de atuação.

“Foi muito importante porque abriu um leque de pessoas que podiam nos apoiar e mostrar os caminhos. O empreendedor às vezes se sente muito solitário, tem que tomar as decisões, mas está muito sozinho, sem saber o que fazer”, conta Lisabeth Braun.

Com formação e experiência em finanças, Ilana assumiu, trazendo novas perspectivas de crescimento e desenvolvimento. Algum tempo depois, assumiu o cargo de CEO.

Com esse suporte essencial na gestão da empresa, Lisabeth pôde manter o foco na inovação e desenvolvimento de produtos, uma área estratégica para os planos futuros.

Unida, a família aumentou o portfólio da marca – que conta com mais de 300 itens, entre produtos para cabelo, rosto, corpo, maquiagem, spa e nutricosméticos; aumentou os canais de distribuição (entre lojas próprias, franquias e drogarias, espalhados por diversos pontos do Brasil); ganhou credibilidade na classe médica; prêmios em congressos internacionais; e é respeitada por consumidores.

Enfim, o legado para a próxima geração já está definido em uma cultura enraizada na transparência e, como Lisabeth faz questão de enfatizar, “fazer dermocosméticos com alta eficácia e resultados verdadeiros, desenvolvidos por brasileiros e para o clima e a pele dos consumidores (também) brasileiros.”

Universo feminino

As mulheres são o público-alvo da Dermage, e elas também compõem 90% da equipe de colaboradores da empresa. Lisabeth conta que gosta de trabalhar com mulheres porque elas sabem, como usuárias, o que as outras querem.

Ela também valoriza as habilidades femininas em todos os campos: “Existe muito preconceito, mas a gente é tão capaz, tão capaz que consegue levar uma vida dupla e tomar conta de uma família, de casa e trabalhar e ser efetiva em todos.”

Texto publicado originalmente na Endeavor.

Fonte: Exame

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