Para ele, crise brasileira atual é culpa de políticas de governo que não priorizam planejamento de longo prazo
Em uma análise ampla da economia e retrospectiva das crises históricas durante a Expogestão, o professor de estratégia da Fundação Dom Cabral, Paulo Vicente dos Santos, afirmou que a crise brasileira atual não é culpa deste governo apenas, mas fruto de uma política que se mantém há 30 anos sem resultado porque não prioriza um plano de longo prazo para o País.
— A tirania do curto prazo impede o pensamento de longo prazo e a solução não virá em quatro anos — afirmou.
O professor enfatizou que, no cenário atual, ganha aquele que tiver liquidez, já que na crise é preciso fazer caixa para pagar os compromissos e os ativos são vendidos abaixo do valor. Ele acredita que nos próximos 18 meses haverá oportunidades interessantes no mercado para aquisições e fusões, por exemplo.
O pior momento da crise, prevê, será em dezembro de 2016. Segundo ele, as empresas ainda vão continuar apertando o cinto, algumas vão falir no caminho e, no final, a economia vai terminar no zero a zero ou encolher de 1% a 2% no ano que vem. Para ele, o mundo todo está entrando em crise e ela será pior lá fora.
Sobre o ajuste fiscal, Santos diz que a presidente Dilma Rousseff fez metade do trabalho ao diminuir benefícios e aumentar impostos sem um planejamento para redução de custos. Ele criticou o corte de recursos para investimentos porque compromete o crescimento de longo prazo.
Empresas
No curto prazo, o professor aconselha maior atenção das empresas nas áreas de finanças e de gestão de pessoas, investindo com moderação e mantendo o caixa. Como contratar e demitir custa caro, sugere estudar opções como reduzir a carga de trabalho ou negociar com o funcionário para que ele se torne pessoa jurídica, tudo isto para manter os profissionais para o período pós-crise. Nas micro e pequenas empresas, o cuidado com as finanças é vital para sobrevivência.
— O risco de o caixa matar uma micro e pequena empresa é grande.
Protecionismo
Santos é defensor da redução do protecionismo. Para ele, o Brasil ficou isolado demais, fazendo um caminho inverso ao da China desde o final dos anos 70. Os investidores querem colocar muito dinheiro no Brasil porque o País está longe das zonas de conflito no mundo. Não estão vindo por causa do protecionismo exagerado
— O modelo mental do Brasil é de uma ilha, está de costas para a América do Sul e tem medo do investimento estrangeiro.
A pressão pela redução do protecionismo deve aumentar, afirma, e ele prevê que o Brasil se tornará um porto seguro para os investidores daqui a cinco, 10 anos.
O protecionismo é um dos muitos gargalos do Brasil apontados pelo professor, ao lado da infraestrutura em transporte, educação, impostos altos, falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento, em energia, entre outros.A saída, acredita, está no planejamento e na tecnologia e defende um olhar atento à inovação em mercados, não apenas em produtos.
Classe média
Para ele, os partidos brasileiros não estão preparados para lidar com as demandas da nova classe média, que quer que o Estado funcione, com educação, segurança e saúde. A classe política, diz, insiste em falar para uma classe popular que não existe mais.
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Estratégias
O professor também mostrou estratégias de países importantes. Em relação à China, a necessidade por recursos naturais a fez investir na Indonésia, África e América do Sul. Na África há 10 anos, os chineses colocaram recursos quando o continente necessitava e têm desenvolvido o agronegócio. Movimento que merece atenção por parte do Brasil, alerta.
Enquanto isso, observa que o Brasil está se desindustrializando nos últimos 25 anos e, quando isto acontece, vê um retorno ao século 19, exportando commodities.
O mundo caminha para formação de grandes blocos nas próximas décadas, em um processo não linear. Os Estados Unidos também investem de US$ 70 bilhões a US$ 80 bilhões em várias tecnologias, em áreas como nanotecnologia, biotecnologia e medicina avançada para elevar a produtividade, parte da estratégia para levar de volta a manufatura para os Estados Unidos.
A meta é que, em 10 anos, os produtos norte-americanos tenham a qualidade americana com o preço chinês. Por fim, Santos prevê que entre 2065 e 2095 haverá uma nova guerra mundial, de transição hegemônica no mundo.
Educação
Nos próximos 30 anos, a educação vai mudar radicalmente, diz o professor da Fundação Dom Cabral. As aulas virtuais vão fazer desaparecer as salas de aula no formato atual, haverá a fusão homem-máquina. Na educação executiva, o papel do professor será mais de facilitador.
Muito conhecimento nos moldes de hoje vai desaparecer e a necessidade de professores vai cair sensivelmente.
— Os professores são os menos preparados para isso, o aluno está mais preparado, hoje ele já pergunta qual será o game para jogar a matéria.