David Porter fez palestra na cidade e contou como se tornou um profissional diferenciado a partir de técnicas de vendas e o uso de criatividade nos negócios

Ex-morador de rua dá lições em Joinville para empreender com sucesso André Kopsch/Divulgação
David esteve em Joinville para dar lições de superação para alcançar sucesso como empreendedor Foto: André Kopsch / Divulgação

A história de superação de David Portes lhe rendeu fama internacional e prêmios como o norte-americano Bizz Awards, em 2006 e 2007, um reconhecimento para quem faz a diferença no mundo dos negócios globalmente. David é daquelas pessoas que conseguem dar a volta por cima, não importa o que aconteça. Com um talento nato para as vendas, criatividade para elaborar campanhas de marketing simples e eficientes e uma boa dose de motivação, ele conseguiu tirar a família das ruas e alcançar o sucesso fazendo o que mais gosta.

O relato de como tudo isto aconteceu se repete em palestras motivacionais em vários países. Já foram mais de 2 mil, sendo dez apenas na China. Na semana passada, mais de 300 profissionais do Shopping Mueller, em Joinville, ouviram os seus ensinamentos. Negócios & Cia também estava lá. Confira o relato de Portes e as dicas de marketing deste profissional bem-humorado, de 58 anos, nascido no Rio, que foi bóia fria e hoje é dono de uma distribuidora de doces, um restaurante, uma cafeteria e de três agências de propaganda, marketing e de promoção de palestras.

O começo

— Eu trabalhava na roça, em Campos de Goytacazes (RJ), cortando cana e minha mulher estava grávida. Eu disse: ‘Maria, vamos em busca da felicidade’. Viajamos de trem para o Rio e fomos morar em um barraco na Rocinha, um lugar muito pequeno, não tinha nem banheiro. Comecei a trabalhar como motorista. Ganhava pouco, mal dava para pagar o aluguel.

Primeiro negócio

— Como eu tinha o sábado e o domingo livres, comecei a fazer uma coisa pela qual me apaixonei: vender. Percebi a oportunidade de vender linguiça na Rocinha. Estava vendendo 6 kg no final de semana, menos do que eu poderia, e comecei a perguntar para as pessoas por que elas não compravam 1 kg de linguiça. Elas respondiam que não tinham dinheiro. Comprei, então, uma balança e passei a trabalhar com linguiça a granel, vendendo só a quantidade pela qual podiam pagar. Na terceira semana, já estava vendendo 30 kg.

Da Rocinha para a rua

— Eu vendia linguiça no sábado, então resolvi vender amendoim torrado e quente na Central do Brasil no domingo. Um dia, depois que um cliente reclamou que o amendoim estava frio, percebi que o fogareiro não estava aquecendo direito. Comecei a abanar com papelão e uma brasa caiu no pé de um dos passageiros do trem. O homem veio para cima de mim. Na confusão, resolvi me jogar do trem na plataforma. Fiquei todo ralado e quebrei o braço. Perdi o emprego de motorista e não conseguia fazer as vendas. O dinheiro foi acabando e acabei despejado. Maria estava indo para o oitavo mês de gravidez, então eu disse: ‘Volte para casa, depois eu vou buscá-la’. E ela respondeu: ‘Eu vim com você e só volto com você’. Começamos a caminhar durante cinco horas e paramos em frente à Academia Brasileira de Letras. Aquela calçada tornou-se nossa moradia. Era 1986. Eu passava fome, mas nunca desisti. Tinha fé.

R$ 12 que viraram o jogo

— Um dia, vi Maria tremendo de dor. Ela havia ido ao hospital no dia anterior e precisava tomar remédio, mas eu não tinha dinheiro para comprá-lo. Não sabia o que fazer. Aí, uma alma maravilhosa ali perto, o porteiro da Vale do Rio Doce, se sensibilizou e me emprestou R$ 12. Fui correndo até à farmácia. Só que antes de chegar, pensei: ‘Deus, passar fome e frio não dá dignidade a ninguém’. Tive uma atitude, uma ousadia. Em vez de ir até a farmácia, fui para o depósito de doces. Tinha que arriscar. Comprei  R$ 12 de doces e comecei a vender na calçada. Em uma hora, dobrei o capital. Usei o lucro para comprar o remédio. Percebi que o público era diferente do da Rocinha e perguntei de que produtos gostavam. Em uma semana, já tinha uma banquinha com 70 itens. Paguei o porteiro e, em nove meses, tirei o meu filho e minha mulher da rua.

As primeiras estratégias

— Com o tempo, percebi que não estava conseguindo reter meus clientes, pois surgiram outras bancas vendendo os mesmos produtos. Mudei minha estratégia. Comecei a fazer marketing e dividi minha banca como uma loja de departamento. Criei tapete vermelho, setor refrigerado (três caixas de isopor), linha diet e engordiet. Isso em 1988, 1989. Também vi que o cliente parava no meio-fio e pegava sol, chuva para chegar à banca. Então comprei um guarda-sol e passei a levar o produto até o carro.

A fama

— Uma das ações que eu fazia era o sorteio de televisão e som 3 em 1. Até que um dia, um jornalista parou o carro e comprou R$ 10 de produtos. Este jornalista se surpreendeu com um camelô fazendo marketing na calçada. No dia seguinte, saiu uma matéria no jornal. Era o Ricardo Boechat e o jornal, O Globo. Depois disso, outros veículos vieram me entrevistar e empresas ofereceram parcerias. A banca foi patrocinada pela United. A cada R$ 10 em compras dava direito a um cupom para concorrer a uma passagem de ida e volta do Rio a Miami.

Orelhão

— Sempre gostei de fazer pesquisa com os clientes para ter um serviço diferenciado. Em 1989, descobri que a hora da fome era às 15 horas, mas os clientes dos prédios comerciais ali perto não tinham tempo para descer e fazer o pedido. Queriam o serviço de entrega. Eu não tinha o dinheiro para comprar o sistema de telefonia de call center, então resolvi fazer uma experiência com dois telefones públicos. Mandei fazer vários cartões com o número dos orelhões. Até que me deduraram para Telemar e os funcionários tiraram os orelhões dali e colocaram do outro lado da praça. Recebia umas 30 ligações por dia.

Internet de cordinha

— Com o tempo, percebi que o número de pedidos não aumentava e isto acontecia porque nem todos sabiam o que queriam e isto congestionava a linha telefônica. Conversei com meu amigo Carlão, que usava um computador IBM, e pedi para ele fazer o que seria um site hoje, com todos os os produtos da banca, as novidades, os preços e o telefone para pedido. Isso em 1992. Todos os outros que estavam no sistema conseguiam ver. E quando ligavam para banca já sabiam tudo. Tinha centenas de “lojas virtuais”. Também encontrei outra forma de receber os pedidos. Carlão enviava o pedido impresso do alto do prédio, por meio de uma corda. Era a minha internet de cordinha.

Fonte: Ex-morador de rua dá lições em Joinville para empreender com sucesso – A Notícia

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