Mais de 170 marcas de franquia estrearam no mercado brasileiro no ano passado
RIO — Setembro de 2015. Demitido de uma empresa que prestava serviços à Petrobras, o engenheiro Rodrigo Petrosemolo Saraiva, de 35 anos, decide abrir um negócio para recomeçar profissionalmente.
Os dois lados se cruzaram na feira Expo Franchising, no Riocentro. Dois meses depois, Rodrigo abre seu quiosque no Botafogo Praia Shopping e o Las Empanadas passa a ter sua primeira loja franqueada. Neste período, muito trabalho e alguns erros pela inexperiência.
“No início foi muita correria. Eu não tinha qualquer prática no comércio e eles ainda não tinham maturidade com o sistema de franquia. Mas tudo foi se ajeitando no dia a dia. A vantagem é crescer junto com a marca, e já pretendo abrir outra loja”, diz Rodrigo, que toca o quiosque ao lado da mulher, Paula.
Atraídos pelo histórico do sistema, empreendedores apostam nas franquias para se aventurar no mundo dos negócios. Apesar da crise, o sistema teve crescimento de 8,3% no faturamento no ano passado. E uma baixa “taxa de mortalidade”: 3,7%.
Na outra mão, as empresas interessadas em não dispender tanto capital no plano de expansão investem nesse método. No ano passado, foram 178 novas marcas que se tornaram franqueadoras, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de franchising (ABF), entre associadas e não associadas à entidade. A grande equação é fazer este encontro de iniciantes dar certo, dizem os consultores.
No caso de Las Empanadas, além da loja de Rodrigo, o restaurante tem outra filial no Rio Design Barra e irá abrir mais três nos próximos dois meses. O investimento inicial mínimo é de R$ 139 mil para o quiosque.
“Nossa previsão era terminar 2016 com dez lojas, mas provavelmente aumentaremos para 15”, diz o argentino Luis Selva, fundador da marca, animado com os resultados iniciais.
Crescimento calculado
Os sócios do Hareburguer também estão otimistas com o crescimento da franquia de fast-food vegetariano. O negócio, que começou na praia, tem investimento inicial de R$ 300 mil e foca num público que consome comida saudável por um preço acessível. Marcos Leite, CEO da empresa, diz que 80% dos frequentadores consomem carne, reduzindo assim os riscos para o novo investidor em apostar todas as fichas em só um nicho de mercado.
“O franqueado que entra numa rede nova tem as melhores oportunidades e pontos, e pode influenciar no rumo da marca desde o início da operação. Nosso histórico no mercado de franquia não é grande, mas há uma história de empreendedorismo de sucesso que completou agora 10 anos. Outro atrativo é que estamos num mercado que só cresce, o de alimentação saudável e vegetariana”, diz Marcos Leite, que revela que pretende, ainda este ano, dobrar o número de franquias: das quatro atuais para oito lojas.
Fora do setor de alimentação (considerado a mola propulsora do mercado de franquia), a iDream, loja de acessórios, serviços e assistência técnica para smartphone e tablets, também está em busca de novos parceiros. No sexto ano de operação, os sócios decidiram planejar o crescimento da rede por meio das franquias. E, em novembro passado, lançaram seu plano de expansão: hoje são 10 lojas próprias e duas franqueadas.
Bate-papo com os experientes
A expectativa agora é ampliar horizontes e partir, no segundo semestre, para Brasília, Minas Gerais e interior de São Paulo, afirma um dos três sócios da iDream, Leandro Tomasi. A terceira franqueada no Rio será aberta no final do mês no Park Shopping , em Campo Grande, pela consultora de RH Tereza Machado, de 43 anos, em sua primeira experiência empreendedora. Interessada em abrir seu negócio próprio, ela ficou tão empolgada com a oportunidade de trabalhar com tecnologia que nem considerou arriscado investir numa marca recém-criada.
“Acredito tanto no negócio que não levei em conta o tempo de criação da franquia. Não tive medo. É um nicho importante a ser explorado porque, com a crise, as pessoas não estão comprando celular, mas consertando ou tentando dar uma nova cara, com as capinhas disponíveis”, diz ela.
Em ato anterior à assinatura do contrato, Tereza conversou com os franqueados para saber mais sobre o funcionamento da loja. Este é um dos primeiros conselhos dado pelos especialistas para quem quer investir em novas redes franqueadoras.
“Antes de fechar negócio, pergunte para os atuais franqueados sobre a relação com a marca, se está feliz com os franqueadores, se compraria uma segunda loja. Quem está infeliz não mente. Assim o futuro empreendedor estará seguro para uma tomada de decisão”, salienta o presidente da ABF Rio, Beto Filho.
A franqueadora é obrigada a liberar estas informações, segundo a Lei de franchising (lei 8.955/94). Beto lembra que todos os dados devem estar num documento chamado Circular de Oferta de Franquia (COF), que descreve a franquia e as respectivas atividades envolvidas, mostra quais são os investimentos necessários e taxas envolvidos para manutenção.
“O documento também obriga a mostrar o balanço financeiro dos últimos dois anos, com detalhamento do produto e as obrigações da marca. Se o candidato não tem segurança para analisar, leve para um advogado. É melhor do que investir errado e sofrer prejuízo”, aconselha ele.
Experiência com outras franquias conta pontos
Na opinião de especialistas em franchising, o fato de um grupo ter outras marcas franqueadas ou uma consultoria assessorando na gestão do negócio conta muitos pontos na hora do investimento. O Vizinhando, por exemplo, é a segunda marca dos donos da rede de franquias Billy The Grill, que tem 34 lojas pelo estado do Rio de Janeiro e, em breve, desembarcará em São Paulo.
O pioneiro a apostar na ideia foi Lucas Studart, que inaugurou o primeiro restaurante Vizinhando (especializado em espetinhos) na Freguesia, em junho de 2015. Hoje, a rede tem mais três franquias: Ilha, Tijuca e Vila Isabel. E mais três serão inauguradas nos próximos meses, pois a meta é fechar 2016 com 20 lojas. O investimento começa em R$ 450 mil, dependendo do tamanho da loja, e o foco são os shoppings e pólos gastronômicos.
“Qualquer negócio traz riscos. Mas tenho indícios de que o Vizinhando é um bom negócio pelos resultados que temos até hoje. O mais importante é que temos franqueados com mais de uma loja. Eles estão prosperando financeiramente e profissionalmente”, explica Luiz Felipe Costa, de 30 anos, sócio ao lado do irmão, Luiz Sérgio. Eles têm ainda uma terceira marca, o Naa!, especializado em comida japonesa.
No caso do processo de expansão dos restaurantes Skipper e do Pe’ahi, os sócios contrataram o Grupo Soares Pereira & Papera para uma consultoria na escolha dos franqueados.
“Os restaurantes têm uma história de sucesso e um grupo de gestão faz a transferência de todo este know-how para o futuro franqueado. Ele se sente seguro, mesmo que a operação de fato ainda não exista”, afirma Renata Mancini, diretora do grupo Cevada, que é dono das duas marcas.
Roberto Kanter, professor do MBA de marketing de varejo da FGV e diretor do Canal Vertical, acredita que o novo empreendedor deve ter muito cuidado ao investir em franquias criadas recentemente. A sugestão vale, em especial, para empresários de primeira viagem, que sempre trabalharam como funcionários.
“Não é só olhar o tempo que está no mercado, mas também o histórico do franqueado. O desconhecido tem grande risco, mas a possibilidade de retorno financeiro é maior. Isto funciona mais no caso dos franqueadores profissionais. Para quem nunca foi empresário, a atenção tem que ser muito maior. Muitos têm a ilusão de que comprar uma franquia é uma negócio garantido. Só que há riscos, sim”, analisa o professor.
Para o coordenador da pós-graduação em Gestão Estratégica no Varejo no Ibmec/RJ, Haroldo Monteiro, uma marca de sucesso não significa que a franqueadora terá êxito. “Uma empresa nova na área de franchising está buscando um canal de expansão rápido. Em tese, uma companhia que tenha mais lojas próprias oferece menos risco. Mas não é garantia.”
Fonte: PEGN