Leilane Sabatini negociava ações no ramo de energia elétrica – até que uma olhada em seu armário fez com que ela largasse a carreira para empreender

Há poucos anos, Leilane Sabatini estava em um ponto da carreira que daria inveja em muitos: ela era trader do setor de energia elétrica, negociando operações de curto prazo no mercado financeiro.

“Eu era a diretora da mesa de energia, e já havia conquistado uma certa estabilidade. Não tinha a intenção de abandonar a carreira, porque é um mercado que paga muito bem, mas sentia que faltavam novos desafios”, conta.

Uma olhada no seu armário, porém, mudaria a vida da empreendedora. Percebendo que havia comprado peças de estilistas famosos que mal tinham sido usadas, Sabatini decidiu vendê-las.

Ela tentou em marketplaces populares, como o Mercado Livre – mas não conseguia procurar interessados em produtos tão luxuosos.

“Então, criei uma conta no Instagram com o nome que pensei na hora: ‘Cansei Vendi’. Foi quando a rede social estava em alta e todo mundo postava, inclusive lojas. Em uma semana, vendi praticamente todos os itens”, conta.

Depois, vieram os pedidos de parentes para que Sabatini também vendesse as peças delas. “Percebi que era um nicho de grande potencial e que não havia sido explorado profissionalmente no Brasil. Enquanto isso, nos Estados Unidos e na Europa, o ‘second hand’ de luxo já era consolidado.”

Esse foi o começo do Cansei Vendi, em 2013: um brechó de luxo que, hoje, já fatura em média 50 mil reais por mês. E as metas para o ano são ambiciosas.

Decisão de carreira e profissionalização

Ainda que o Cansei Vendi tenha surgido há três anos e meio, foi apenas em maio de 2016 que Sabatini finalmente tomou a decisão de largar sua carreira no mercado financeiro para se dedicar inteiramente ao negócio.

Até então, o negócio operava apenas pela página do Instagram e por um site bem simples: não havia processos automatizados para processar as compras, algo comum em lojas virtuais.

Mesmo assim, o Cansei Vendi cresceu rápido: a empreendedora passou a receber vários e-mails de gente querendo comprar e vender peças.

Em 2016, com a dedicação integral à marca, Sabatini estruturou a empresa e passou a buscar investidores. Entraram também duas novas sócias: Ana Carolina Darde e Carol Leonhardt.

Ana Carolina Darde, Leilane Sabatini e Carol Leonhardt

Ana Carolina Darde, Leilane Sabatini e Carol Leonhardt, do Cansei, Vendi (Cansei, Vendi/Divulgação)

Em dezembro do ano passado, o empreendimento recebeu um investimento-anjo no valor de 400 mil reais.

“Falei com gente que eu já conhecia, que sabia como eu trabalhava e tinha dinheiro para investir. Os investidores-anjo que aportaram no fim do ano passado são ex-chefes meus, que nunca investiram em startups, mas acreditaram no meu potencial e nas informações que eu dei sobre o mercado.”

Com esse aporte, a plataforma própria do Cansei, Vendi começou a ser desenvolvida. O site foi lançado após três meses de programação. “Queríamos passar credibilidade e, assim, sair na frente dos concorrentes”, explica.

O Instagram assumiu um novo papel: hoje, ele funciona mais como um grande canal de divulgação do site, que é por onde realmente acontecem as transações. O grande objetivo do perfil é dar informações adicionais para os consumidores e convidá-los a conhecer a plataforma.

Além disso, a empreendedora faz testes de demanda de produtos. “A gente posta lá produtos que já confirmamos a venda, mas que ainda não fizemos as fotos e subimos no site. Isso acaba sendo um termômetro para a gente do potencial de liquidez de cada item”, conta.

“Temos um público-alvo de mulheres entre 25 e 40 anos, de média e alta renda, que nos associam muito com o Instagram”, diz. Até hoje, 60% das vendas vem dessa rede social.

Em 2017, a média de faturamento mensal do Cansei, Vendi girou entre 40 e 60 mil reais. Em 2016, a média era de 25 mil reais. “Com as mudanças que tivemos, dobramos nosso faturamento”, diz Sabatini.

“Há pouco tempo, começamos a investir no Google. O foco, agora, será nas mulheres de 50 ou 60 anos, que também podem se tornar nossas clientes. Quando estivermos bem calibrados, acho que a maior fonte de receita virá do Google.”

Como funciona?

No marketplace Cansei Vendi, é possível comprar e vender peças de luxo de segunda mão. Para comprar, o funcionamento é parecido ao de qualquer e-commerce.

Já para vender, o usuário deve entrar no site, cadastrar informações do seu produto e mandar fotos para triagem pelo negócio.

“Cada marca tem um checklist de itens que comprovam sua originalidade, e eu que assumi principalmente esse estudo. Vi os critérios em contatos com empresas americanas que fazem tal avaliação, diversos sites e vídeos. Se a peça não passa em um item, devolvemos”, diz Sabatini.

Se o item for aprovado, o Cansei Vendi entrará em contato e um termo deve ser assinado. As peças então são entregues à plataforma e ela fica responsável por enviá-la ao comprador. O objetivo é garantir a segurança da peça e a qualidade na entrega.

“O contato do comprador é conosco, e não com o vendedor. A comissão é de 35% do valor de venda: ou seja, o vendedor fica com 65% do valor anunciado da peça. Nos Estados Unidos, essa comissão costuma ser de 40%”, defende a empreendedora.

Hoje, cerca de 300 peças estão cadastradas no site, com ticket médio de venda em 2,5 mil reais. Cerca de 20 itens são vendidos pelo martketplace. A campeã de vendas é a bolsa Neverfull, da marca Louis Vuitton.

A média de descontos sobre o valor do produto novo é de 50%, segundo Sabatini. O preço anunciado varia de acordo com sinais de uso, pressa em vender o produto e, claro, preço de mercado. A grande maioria dos vendedores pede para o Cansei, Vendi uma sugestão de preço a anunciar, baseado na avaliação feita pelo marketplace da peça.

Planos

Além da consolidação da nova plataforma após a aporte, o Cansei Vendi está investindo em novos recursos para seus consumidores.

“Criamos uma calculadora de revenda pela qual o cliente consegue estimar o valor de venda do seu item no mercado de revenda de produtos de luxo. Ainda estamos na fase de piloto dessa calculadora, com as marcas e produtos mais comercializados”, conta Sabatini.

O investimento-anjo também será usado para conquistar participação de mercado, focando em ações de marketing e em estruturas operacionais para suportar tal crescimento (por exemplo, mais gestão de estoque e de processos). Sabatini também pretende vender outros itens dentro do nicho de luxo, diversificando o mix de produtos.

Com isso, o Cansei Vendi já projeta metas agressivas para este ano. Até dezembro de 2017, a marca que chegar a um faturamento mensal de cerca de 120 mil reais – quatro vezes mais do que o obtido em dezembro de 2016, que foi de 30 mil reais. Hoje, o negócio fatura entre 40 e 60 mil reais no mês.

Fonte: Exame

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