Advogado sinaliza um tom mais ameno no relacionamento da instituição com o poder público

'Não somos políticos de oposição. Somos empresários', diz João Martinelli, que inicia segundo mandato à frente da Acij Claudia Baartsch/Agencia RBS

Reeleito por mais um ano à frente da maior associação empresarial do Estado, o advogado João Joaquim Martinelli toma posse neste segunda-feira, em Joinville, sinalizando um tom mais ameno no relacionamento com o poder público.

Quando assumiu pela primeira vez a presidência da Acij, em junho de 2014, o discurso de posse indicava que haveria uma cobrança mais forte para destravar reivindicações da entidade.

Um ano depois, as bandeiras da mobilidade, segurança, saúde e educação permanecem.

Porém, Martinelli mostra-se satisfeito com o andamento dos projetos e ciente das dificuldades financeiras dos governos. O que o faz mencionar a construção de uma parceria.

– Não somos políticos de oposição. Somos empresários. Este relacionamento próximo, de poder sentar e conversar sobre os problemas da cidade, tem sido muito importante _ afirmou.

Em entrevista exclusiva para “AN”, Martinelli revela como as empresas de Joinville estão lidando com a crise, comenta o desafio da segurança, as denúncias de corrupção e o que pensa sobre o governo da presidente Dilma Rousseff. Em meio a tudo isso, o advogado se recorda com humor do “puxão de orelha” que levou da mulher quando ela descobriu, há dois anos, que ele seria o próximo presidente da Acij. Confira os principais trechos:
DISCURSO DE POSSE
– Na primeira vez, tivemos um tom no discurso de posse que chamo de “cores mais fortes” porque precisava realmente. Há anos, Joinville pedia as câmeras de monitoramento. Mas estive com o governador na última quinta-feira e, nos próximos 15 dias, teremos as câmeras funcionando. Isso foi produto de persistência e de construir um relacionamento com os governos municipal e estadual. A obra
da rua Santos Dumont, que surgiu na Acij, já retomou e está prevista para final de 2016. Sempre se falava em duplicar a rua Dona Francisca, mas como vai duplicar sem projeto? Já temos o projeto. Agregamos
durante o mandato a duplicação da Hans Dieter Schmidt. Já temos licitação do projeto e, no ano que vem, poderá começar a duplicação
PUXÃO DE ORELHA
–  Já havia sido convidado há dois mandatos e nunca aceitei. Achava que precisava ser um empresário de maior peso.
Só assumi porque acordei de manhã e vi no jornal que seria o presidente da Acij. Nem eu sabia. Desci a escada e escutei a mulher falando lá da cozinha: “Bonito, né, seu João Martinelli…”.
Mulher quando fala o nome completo do marido e coloca “seu” na frente, você já pensa: “O que eu fiz?” E ela me disse: “Se você vai assumir a Acij, podia pelo menos ter me avisado” _ mostrando meu nome no jornal.
Isto foi um ano antes do primeiro mandato. O que aconteceu foi que, num voo vindo de Brasília estavam profissionais da Whirlpool, o governador, alguém da Döhler, da Tigre, um grupo de empresários, e decidiram que eu ia ser o presidente da Acij. Não pude dizer não.
GRATIDÃO
– Depois de um ano, estamos vendo o governo acolhendo o pleito da Acij. Não podemos manter a acidez, não faz sentido, temos que ser gratos. Não podemos fazer de conta que somos políticos de oposição. Somos empresários. A presença do governador em Joinville é semanal. Ele tem tido com Joinville um carinho diferenciado. A gente precisa reconhecer essas coisas. E este relacionamento próximo de poder sentar e conversar sobre os problemas da cidade tem sido muito importante nesse momento.
SEGURANÇA
– Joinville não é mais uma cidade pequena. É uma cidade-polo, onde há migração de pessoas de outros Estados e a cidade não consegue produzir emprego para toda essa gente. É um fenômeno natural em virtude do crescimento da cidade. Embora a violência não seja natural, está aqui como em outras cidades. São mortes com alguma previsibilidade. Ou o drogado ou o traficante está envolvido.
Santa Catarina ainda tem a menor taxa de homicídios do Brasil, mas isso não serve de consolo. O fato é que temos que tratar com rigor o tráfico, um problema nacional difícil de ser controlado.

CORRUPÇÃO
– Corrupção não é privilégio de um partido político, basta ver a Fifa. O que precisa é acabar com a impunidade e melhorar a educação. E por que se corrompe? Você tem um negócio e um potencial
comprador diz: “Ok, mas terá que pagar 2% ou 3% do que vender para mim”. Qual a escolha que você tem? Ou fecha o negócio, ou vende.
Com certeza há casos que são dessa forma, especialmente em empresas menores. Você tem os dois lados da moeda: o corruptor e o corrompido. Na minha visão, o maior culpado é sempre quem corrompe,
quem toma a iniciativa, o que tem mais força.

INSTITUIÇÕES FRÁGEIS
– O Brasil está passando por um momento de instituições frágeis. O Congresso Nacional e a classe política fragilizados. O instituto da presidência está fragilizado. Você vê deboches contra a presidente todos os dias, e ela dá motivos. Os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado sendo investigados, e quase 40% do Congresso respondendo a processos.
Há um jogo de poder para saber quem é mais forte, se o governo ou o Congresso. Está na hora de o Congresso olhar o povo. E por trás disso, você percebe um grupo tentando se perpetuar no poder.

JOINVILLE
– As empresas de Joinville reduziram os investimentos até porque os investimentos grandes são feitos com linhas do Finame, que não estão liberadas. Elas também estão refazendo o orçamento, pois sabiam que viria alguma coisa, mas não do jeito que está.
Você tem que desvincular um monte de custos, e as empresas estão fazendo a lição de casa muito bem. Vamos perder emprego, atividade econômica e o comércio será o maior prejudicado. Vamos viver um segundo semestre difícil. Mas pode ter certeza de que Joinville vai passar melhor do que muita gente
pela crise. A palavra de ordem é trabalhar mais e mais.
DENTRO DA CRISE
– Nem nós entendemos por que está dando errado. Brasil e Grécia são os únicos países em crise aberta, e não dá para comparar um país com outro. Paraguai está crescendo 5% e Bolívia, 7%. É uma vergonha para nós. Temos que continuar trabalhando e acreditando no Brasil.
A crise é uma realidade? É, mas vamos sair dela. A maior preocupação é que antes tínhamos uma noção de distância. Uns diziam: “Depois da eleição se acalma”. Outros falavam que seria depois da Copa do Mundo ou a partir do ano que vem. Mas, nesse momento, não se consegue identificar o “a partir de”.
Estamos sem previsibilidade.

SEM RUMO
– A impressão é de que o Brasil perdeu o compasso das coisas. Por onde deve ir para melhorar. Só colocam para nós: temos que aumentar os impostos e investimentos, mas não dizem que vão
cortar gastos, cortar ministérios. Mesmo que isso não fosse significativo do ponto de vista econômico, do ponto de vista moral e da percepção pública haveria um efeito psicológico. Está na hora de pararmos de falar de crise e começarmos uma agenda positiva, mas isso começa com quem tem o poder na mão.
REESTRUTURAÇÃO DE EQUIPES
– As empresas estão tirando gente que não produz mais. As perguntas mágicas que o profissional deve fazer são: Você merece o que ganha? Você tem chance de crescer na empresa? Não? E alguém que ganha a metade do que você, faz o que você faz? Se você pedir demissão hoje, a empresa recontrataria você pagando o mesmo salário? Se a resposta é não, ou você toma uma atitude e faz para que seja assim, ou você será o próximo a ser demitido. Mas você tem que se fazer a pergunta, não a empresa.

Fonte: ‘Não somos políticos de oposição. Somos empresários’, diz João Martinelli, que inicia segundo mandato à frente da Acij – A Notícia

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