Como funciona a coleta e reciclagem de cápsulas de café na Nespresso
A relação do brasileiro com o café é de longa data. As primeiras mudas chegaram em 1727 em Belém (PA) e o cultivo rapidamente se popularizou. O produto, que era voltado para exportação e atendia principalmente às demandas de outros países, caiu no gosto popular. O café inicia o dia de um brasileiro, arremata seu almoço e, muitas vezes, acompanha um doce ou salgado durante a tarde. Além da relação afetiva e gastronômica, o café faz parte da história econômica do Brasil: foi o produto responsável pela expansão do crescimento econômico brasileiro no final do século XIX e permitiu a acumulação de capital para a industrialização do país. Mesmo após tantos anos, o café continua representando uma parte importante da economia nacional: somos os maior produtor e exportador do mundo. O Brasil também é um dos países que mais consome a bebida: as últimas estimativas da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) apontam que o consumo brasileiro é de 81 litros por pessoa.
No entanto, há uma desvantagem grande nesse processo: o lixo gerado pelo descarte incorreto das cápsulas. No mercado brasileiro desde 2006, a Nespresso criou e desenvolveu seu próprio centro de reciclagem para dar um destino correto às cápsulas da marca, localizado em Barueri (SP). Claudia Leite, Gerente de Cafés e Sustentabilidade da Nespresso, explica que as cápsulas coletadas nos diversos pontos de descarte são recebidas, trituradas por máquinas e separadas mecanicamente (sem uso de água) da borra de café. O metal é encaminhado para parceiros de reciclagem e volta ao ciclo produtivo como matéria-prima e a borra é usada para a produção de adubo orgânico.
O centro foi aberto ao público para visitas guiadas no dia 17 de maio, Dia Mundial da Reciclagem. O objetivo da ação é mostrar aos clientes e outros interessados o trabalho de logística reversa da organização e aumentar mais o engajamento em torno da questão. “O que vimos é que, nos últimos anos, o engajamento do consumidor tem aumentado, Passamos de 8,6% de taxa efetiva de reciclagem em 2016 para 13,3% em 2017 e, nesse começo de ano, alcançamos 17%”, explica Leite.
Trazer maior comodidade e facilidade para os consumidores reciclarem é o atual compromisso da área de sustentabilidade da marca. Os pontos de coleta da Nespresso atingem hoje 68% dos consumidores da marca, segundo Leite. O objetivo é chegar a 100% de capacidade até 2020. Uma das ações que a companhia atualmente toma nesse sentido é o de tentar parcerias com cooperativas de reciclagem.
“No ano passado, tivemos uma primeira abertura para negociar, entender essa realidade das cooperativas e começamos efetivamente em 2018 a coleta em algumas. Mas, mais do que fazer essa coleta, tem todo um trabalho de sensibilização e entendimento da realidade de cada um deles para mobilizá-los a identificar esse tipo de material. Uma vez que eles fazem essa coleta, nós trazemos para cá, e damos a sequência à reciclagem”, relata Leite.
Por enquanto, a companhia trabalha a logística reversa quando realiza a entrega de cápsulas novas. Para isso, usa dois meios que não produzem carbono: o carro elétrico e a bicicleta. O carro elétrico atende empresas com a comodidade da entrega com hora marcada: quando chegam com o produto, os motoristas também recolhem o que foi descartado.
Para pessoas físicas, a entrega de novas cápsulas é realizada através de bicicletas. A startup Courrieros entrega em até 24h em São Paulo e no Rio de Janeiro, cidades que concentram grande parte do público consumidor de Nespresso. A vantagem desse meio de transporte, além de não emitir carbono, é que chega a ser mais rápido que motocicletas e carros por não pegar trânsito, segundo Gilberto Avi, Head de Operações da Nespresso. “Ter colocado um serviço sustentável tem a ver com eficiência”, resume.
Enquanto entregam os novos pedidos, os courrieros, como são chamados os colaboradores, recolhem as cápsulas usadas dos clientes. O piloto vem sendo montado desde 2016 pelas duas empresas e exigiu muita reestruturação e treinamento da startup, como conta um dos fundadores, Victor Castello Branco.
Acostumados a entregar documentos e atender e-commerces menores, a empresa, vencedora do Prêmio Eco de Sustentabilidade de 2017, teve que repensar sua logística e operação para atender uma líder de mercado. Isso passou por adequar o espaço de armazenagem, climatização do galpão e toda a parte de recebimentos de carga para não comprometer o prazo de 24h e nem a qualidade.
“Tem a parte de delicadeza com as cápsulas, aprender a manusear, aprender a pedir a reversa [cápsulas usadas], isso tudo como parte do treinamento com ciclistas”, relata. Os ciclistas entregam por quase toda a cidade, exceto em endereços considerados de risco.
Trabalhar com a logística reversa tem sido um grande desafio, na avaliação de Castello Branco, por depender muito do cliente para que o processo funcione. “Normalmente, não dependemos tanto do cliente para a parte de entrega. Mas dependemos para a parte de coleta, porque ele precisa preparar o pedido. No caso da Nespresso, deixar as cápsulas em um saco, na portaria, avisar o porteiro. Como não é de praxe fazer essa reversa, ainda temos entraves. Falta as pessoas terem a cultura de devolver, de reciclar, e não só clientes, mas também as pessoas que fazem parte da cadeia”, analisa.