Comentarista do programa Fantástico, da Rede Globo, estará em Joinville no dia 1º de outubro, a convite da Acij, para a palestra Gerenciamento de Mudança
Gehringer já escreveu alguns livros sobre o comportamento em ambientes corporativos – Foto: Divulgação / DivulgaçãoConhecido por seus artigos em revistas especializadas e comentários na rádio CBN e no programa Fantástico, da Rede Globo, o administrador de empresas Max Gehringer estará em Joinville no dia 1º de outubro para a palestra Gerenciamento de Mudanças, às 20h, na Expoville.
Convidado da Associação Empresarial de Joinville (Acij), Gehringer abordará questões relacionadas ao trabalho e emprego em tempos de crise.Autor dos livros Empregado de A a Z, Aprenda a ser Chefe e Comédia Corporativa, Gehringer conversou com “AN”sobre temas como a situação do mercado profissional, as alternativas para a qualificação, as vantagens dos cursos técnicos e profissionalizantes, entre outros assuntos. Confira a entrevista que é um aperitivo da palestra que ele fará em Joinville:
A Notícia — Em tempos de crise, muitas pessoas empregadas se perguntam: “o que devo fazer para não entrar na ‘lista negra’ das empresas?” De que forma o colaborador deve encarar a situação?
Max Gehringer — Quem se prepara para ser demitido, geralmente não é. As demissões afetam os que não estavam preparados. Três coisas garantem um emprego: resultados práticos acima dos objetivos, sintonia com a cultura da empresa e bom relacionamento pessoal com colegas e superiores. Eu já vi muitas listas de dispensas em minha carreira, mas nunca vi ninguém que preenchesse essas três condições ser demitido.AN — Muitas pessoas acreditam que abrir um negócio próprio pode ser mais rentável do que ficar anos em uma empresa e sem perspectivas. Como o profissional deve se preparar para o desafio?
Gehringer — Concordo que empreender será a melhor opção profissional do século 21. O emprego seguro, como nossos pais e avós o conheceram, está cada vez mais escasso e menos seguro. Quem pretende abrir um negócio próprio deve começar fazendo um curso no Sebrae, para entender antecipadamente o que pode dar errado. Metade das empresas pequenas ficam pelo caminho porque seus donos têm fé, coragem e vontade, mas não têm as informações básicas para começar.AN — Apesar de ser um polo industrial, Joinville tem fechado muitas vagas de trabalho. Para quem perdeu o emprego, é o momento de se reciclar e investir em outra área?
Gehringer — Mudar de área é uma opção que agrada a muita gente, mas é menos factível do que parece. Quando surge uma vaga, a empresa prefere contratar alguém que já tenha experiência nela, e não alguém que esteja querendo fazer uma transição de carreira. Minha sugestão para quem ficou desempregado é não se deixar abater. Deve fazer cursos, prestar serviço voluntário em uma ONG, participar de reuniões de associações, refazer contatos com antigos professores e colegas de escola e trabalho. Em épocas de crise, em que as vagas minguam, as poucas que aparecem são preenchidas por indicação direta. Logo, quem se retrai tem bem menos chance do que quem procura apoio.AN — As entrevistas de emprego quase sempre deixam os candidatos nervosos, o que acaba determinando a sua exclusão do processo seletivo. Como driblar esse nervosismo?
Gehringer — Ensaiando. A questão é que um candidato não está acostumado a ser entrevistado, e aí vai para uma entrevista em que seu futuro imediato será decidido em meia hora. É claro que a maioria fica nervosa, não responde o que deve e fala o que não deve. Para evitar isso, é preciso treinamento prático antecipado. Minha sugestão é: candidate-se a vagas que você não deseja, em empresas nas quais você não quer trabalhar, apenas para adquirir experiências em entrevistas. Na hora em que uma for para valer, a experiência adquirida fará com que o nervosismo seja mínimo.AN — Qual é a sua opinião sobre os trainnes? Esse é o melhor caminho para formar talentos e fazê-los incorporar a cultura da empresa?
Gehringer — Trainee é coisa de empresa grande, que pode investir no treinamento prolongado de um empregado antes de dar uma função efetiva e ele. Empresas de médio porte, para não citar as menores, não têm condições financeiras de fazer isso. Mas, no caso das grandes, sou inteiramente a favor. É melhor ter um empregado que experimentou diversas áreas e se definiu por uma delas com conhecimento de causa.AN — Que orientação os gestores devem dar aos jovens com formação acadêmica para fazer com que eles trilhem uma carreira de sucesso?
Gehringer — Nenhuma faculdade ensina coisas que são elementares em uma carreira profissional. Por exemplo, como reagir diante de uma bronca injusta do chefe? Como enfrentar um colega invejoso? Como pedir aumento? Nada disso está nos currículos das faculdades. O aprendizado se dá na vida prática, reagindo a essas situações. O conhecimento acadêmico certamente terá um peso considerável, mas não já no primeiro emprego, em que as exigências teóricas são mínimas. Ninguém é contratado para o primeiro emprego para fazer o plano estratégico da empresa, ou reorganizar um setor inteiro. As primeiras vagas são de auxiliares, e irá se destacar quem souber lidar melhor com decepções, mostrar mais habilidade de relacionamento, e entender bem o que aquela empresa espera de um novo empregado.AN — Santa Catarina se destaca em muitos setores da economia. Na sua opinião, como as empresas daqui devem se preparar para o futuro?
Gehringer — Pagando salários decentes, oferecendo oportunidades para aqueles que as merecerem e criando um ambiente de trabalho respeitoso e agradável. O mundo corporativo pode ter ficado mais veloz, mas seus valores básicos continuam a ser os mesmos.
AN — É melhor fazer um curso técnico ou buscar formação acadêmica?
Gehringer — Um curso técnico oferece melhores chances de começar bem a vida profissional. Como se tornou possível “pular” o curso técnico e partir direto para o curso superior, criou-se no mercado de trabalho um grande vácuo na categoria dos técnicos. Não está fácil encontrá-los e muitas empresas precisaram passar a formá-los internamente. Por isso, não é raro um técnico ganhar bem mais do que um bacharel. Também é importante ter em mente que ter um curso técnico não significa deixar de fazer uma faculdade. Ela vem depois, como complemento natural da formação.AN — Qual é a idade indicada para o jovem começar a trabalhar?
Gehringer — Deve-se começar o quanto antes. Muita gente acredita que é preciso acumular cursos para ingressar bem no mercado de trabalho. Essa é uma impressão falsa. Estudar é essencial, mas uma tonelada de diplomas não substitui um quilo de experiência. Não por acaso, o maior índice de desemprego hoje está na faixa dos 18 e 25 anos.
Fonte: “O aprendizado se dá na vida prática”, diz Max Gehringer – A Notícia