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O cheiro mágico do queijo

O cheiro mágico do queijo

Acari Manestrina criou uma região produtora de leite e ergueu a maior indústria de queijos nobres do Brasil

“Meu filho, come a polenta e o queijo só cheira.” O menino Acari Menestrina perdeu o pai quando tinha apenas quatro anos, mas nunca esqueceu essas palavras que marcam até hoje a sua vida. Na modesta casa de madeira, em Rio dos Centros, no Oeste de Santa Catarina, onde nasceu, começou a estudar, formou-se em técnico agrícola, plantou pastagem, comprou uma, duas, dezenas e centenas de vacas leiteiras. Ergueu primeiro a Cedrense e depois a Gran Mestri, hoje a maior e mais qualificada indústria de queijos nobres do país. Apoiou outros produtores em toda a região Oeste e formam hoje uma das maiores bacias leiteira do país, com uma produção diária que supera 10 milhões de litros, mais que todo o Uruguai, que sempre foi um país de referência na produção leiteira na América Latina e no mundo. “Tenho leite no sangue e o que me motiva é produzir queijos de alta qualidade”, revela o empreendedor Acari Menestrina ao “abrir o seu coração”.

Agora em dezembro inaugurou uma nova fábrica, junto ao atual complexo industrial, para a produção dos queijos Provolone e Gorgonzola. Já está com toda a base pronta para produzir também o nobre queijo Roquefort (do leite de ovelha) e o Muçarela de búfala, um queijo leve que está sendo muito consumido em todo o país.

A ORIGEM

Com o falecimento precoce do pai, o então menino Acari dividia o tempo entre os estudos e o auxílio aos avós nas atividades do campo, enquanto a mãe trabalhava na cidade. Assim nasceu a paixão pela lida rural. A busca por conhecimento especializado iniciou no Colégio Agrícola de Camboriú, onde se formou técnico agrícola em 1975. Na ocasião, foi premiado com a medalha de melhor aluno de Zootecnia.

No ano seguinte, passou no concurso da respeitada Associação de Crédito e Assistência Rural do Estado de Santa Catarina (Acaresc), atual Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Depois do treinamento em Florianópolis, foi designado para um estágio no Extremo Oeste catarinense, no município de Itapiranga. Passados 40 dias, a próxima missão foi como extensionista de crédito em São Miguel do Oeste. Dois meses depois, assumiu o escritório municipal da então Acaresc, em Guarujá do Sul, também no Extremo Oeste catarinense.

Acari conta que a sua ida para Guarujá do Sul foi o maior desafio que assumiu na vida. “Cheguei em Guarujá do Sul determinado a ser número ‘1’. Entrei de corpo, alma, mente e espírito porque tinha tudo a ser feito ali. Na época, não tinha estradas, havia algumas casas de madeira apenas, não tínhamos telefone ou televisão e a energia elétrica era fornecida até às 22h”, lembra . Juntamente com o prefeito e o padre, Acari Menestrina se tornou uma autoridade do município.

AS DIFICULDADES

As dificuldades eram gigantescas, recorda o empreendedor, mas para ele tudo era novidade. “Implantei a primeira lavoura irrigada na região, o primeiro biodigestor, o primeiro viveiro florestal e a primeira pocilga de alvenaria com piso ripado, por exemplo”, conta Menestrina. Foram oito anos de trabalho com grandes transformações na área rural do Extremo Oeste.

Mas o visionário empreendedor enxergava ainda um grande potencial ali: queria transformar a região em uma das maiores bacias leiteiras do Brasil. “Me chamavam de louco. Mas aproveitei que eu tinha um programa de rádio, chamado Gente do Campo, e comecei a defender o projeto. Os produtores não tinham leite nem mesmo para o consumo da família”, destaca.

Em 1982, Menestrina deixou a extensão rural para se dedicar ao projeto que mudaria sua vida. Foram mais de mil reuniões com produtores rurais. “Eu trouxe as primeiras vacas das raças Holandesa e Jersey, fiz a primeira pastagem de inverno com aveia e azevém e trouxe o primeiro aparelho de cerca elétrica”, lembra.

HORA DE EMPREENDER

Em 1990, criou a empresa Cedrense, cujo nome homenageava seu município de origem (Rio dos Cedros) e a cidade sede da indústria (São José do Cedro). Diariamente, 1 milhão de litros de leite eram transformados em mais de 80 produtos, em oito unidades industriais. A fábrica já tinha se tornado uma referência nacional.

Ainda insatisfeito, Menestrina visitou mais de 500 laticínios em 30 países da Oceania, que é modelo de produção de leite no mundo, além de indústrias de lácteos na Europa e Mercosul. A partir do que viu, trouxe toda a tecnologia e tendências do setor. Foi aí que o industriário tomou uma decisão. “Percebi que a tendência era de que as commodities ficariam sob o comando de duas ou três empresas nacionais. Foi aí que resolvi buscar tecnologias italianas para fabricar os queijos mais nobres do mundo, aqui em Santa Catarina. Assim nasceu a Gran Mestri Alimentos que atualmente é referência na produção de queijos duros na América Latina”, relembra.

Hoje a produção de leite é a principal fonte de renda para 805 famílias da região. “Sinto muito orgulho de ser o pai da bacia leiteira do Oeste catarinense porque transformou a região. E a base de tudo foi a extensão rural que me ensinou a ser organizado ao extremo. Ser extensionista rural foi o meu grande diferencial como empresário”, avalia.

Acari Maestrina organizou, em 2008, uma missão técnica para Nova Zelândia. O grupo foi composto por 15 pessoas do setor público agrícola, empresários do setor lácteo, consultores, professores, pesquisadores e extensionistas de Santa Catarina. O objetivo era conhecer a bovinocultura de leite, ovinocultura (carne, lã e leite) e todas as tecnologias envolvidas nas cadeias produtivas desses setores, principalmente o cultivo de manejo de pastagens.

A bagagem voltou cheia de informações, mas a principal é a necessidade de melhorar a comida para os animais tratando as pastagens como lavouras. Com alimentação de maior qualidade, o resultado só poderia ser a excelência do leite e, consequentemente, do produto final. Foi assim que Menestrina constituiu um pedaço da Nova Zelândia aqui no Brasil.

NOVA OUSADIA

Sopramonte significa “sobre os morros” e é um povoado de Trento, no Norte da Itália. Foi dessa localidade que vieram os ancestrais da família Menestrina. Sopramonte também é o nome do mais recente empreendimento do industriário. Trata-se de uma área de 200 hectares, na linha Tope da Serra, no município gaúcho de Erval Grande, na divisa com o estado catarinense, destinada à produção de pastagens irrigadas. A intenção é produzir leite com alta qualidade e baixo custo. As sementes foram trazidas da Nova Zelândia.

Na Fazenda Agro Sopramonte também está em desenvolvimento a genética para a produção de leite de ovelha e de búfala para, futuramente, produzir os queijos Roquefort e moçarela de búfala – a fábrica já está pronta para essa produção. Também há área de terra destinada ao cultivo de nozes pecã e de oliveiras com a pretensão de oferecer ao mercado o azeite extravirgem prensado a frio. A fazenda também é responsável pelo reflorestamento que atende às necessidades da Gran Mestri, produção de erva-mate, essências nativas e possui o primeiro viveiro regional de eucaliptos.

TRAJETÓRIA

A trajetória de trabalho e conquista já rendeu mais de 100 prêmios e menções ao empreendedor Acari Maestrina. “Sempre digo que aproveitei, não deixei passar nenhuma oportunidade. O importante é treinar, treinar, treinar. Estar constantemente atualizado e em busca de inovação”, completa.