Entre os autônomos, o crescimento foi de 5,7% e tem a participação das MPEs

José Laerte Tomaz decidiu customizar calçados e, em um ano, o volume de serviço dobrou Foto: Leo Munhoz / Agencia RBS

O número de empresas que fecharam as portas em Joinville no primeiro semestre deste ano cresceu 35,5% na comparação com o mesmo período de 2014. Os dados são do setor de fiscalização de tributos da Secretaria da Fazenda do Estado e incluem comércio, serviço e indústria. Conforme o levantamento, houve 569 baixas de janeiro a junho.

Contudo, entre os autônomos, o crescimento verificado foi de 5,7% e tem a participação de muitas micro e pequenas empresas, as MPEs. De acordo com Célio Valcanaia, vice-presidente de comunicação, comercial e de relacionamento da Associação de Joinville e Região da Pequena, Micro e Média Empresa (Ajorpeme), as MPEs sentem a crise econômica de forma diferente das corporações maiores.

– Enquanto a maioria das grandes empresas tem reservas de caixa para se manterem em tempos de crise, muitas MPEs não possuem essa disponibilidade. Elas apresentam fragilidades, como a dependência de grandes empresas ou a dificuldade de obter financiamento – afirma.

Para Valcanaia, o momento exige atenção redobrada no que se refere à administração do caixa, com cortes de gastos e prudência na tomada de decisões.

A especialista em gestão de MPEs da consultoria global Hay Group, Lucimar Carvalho, destaca a importância de se investir na eficiência da gestão e não descuidar da equipe.

Em pequenas empresas, especialmente as familiares, Lucimar destaca que o fluxo da comunicação tende a passar por um processo mais demorado, o que prejudica a eficiência. Segundo ela, nas corporações com estrutura mais enxuta, os processos nem sempre são bem definidos e o mesmo profissional acumula tarefas de outras áreas, por não estar claro a ele e ao gestor qual é a atribuição de cada um.

Valor do profissional

Quando o assunto é remuneração, a consultora recomenda avaliar o valor que o profissional tem para aquela companhia.

– Em vez de buscar informações no mercado, olhe primeiro para a estrutura organizacional e avalie quanto está valendo aquele profissional dentro de sua empresa. É uma atividade mais processual? Está na linha de frente de resultado? Pois um cargo financeiro em um banco tem peso diferente do que em uma empresa de serviços – afirma.

Lucimar percebe também uma evolução na gestão das pequenas e médias empresas no Brasil após a crise mundial de 2008 e 2009, quando teve início o movimento de olhar para pessoas e processos, buscando ter áreas enxutas, funcionários de melhor desempenho, menos burocracia e indicadores voltados para a área de negócio.

DICAS IMPORTANTES

– Procure administrar meticulosamente o caixa.
– Corte os custos desnecessários.
– Busque fontes mais baratas e alternativas de financiamento, como as cooperativas de crédito, por exemplo.
– Tenha prudência nas tomadas de decisões.
– Construa alguns cenários.
– Lembre-se que a crise também pode trazer algumas oportunidades.
– Faça parcerias com os clientes atuais.


SOCIAL EM CASA

Linei Pizzato se define como uma consumista nata, mas é também uma mulher determinada. A consultora em segurança tem dois filhos e percebeu que as contas estão apertadas neste ano. O jeito foi se adaptar.

Ela até pensou em comprar uma bota nova para o rodeio e desistiu. Preferiu reformar a que havia comprado no ano passado e aproveitou para levar outros calçados para o conserto.

Os hábitos também mudaram. Deixou para trás restaurantes e marmitas e foi para a cozinha. Corridas de táxi foram substituídas pelo ônibus, e até o lazer da filha de 15 anos se adaptou aos novos tempos.

No lugar de dar dinheiro para sair com os amigos todo final de semana, agora são eles que vão para casa de Linei. A consultora oferece o refrigerante e cada um contribui com R$ 10 para pedir a pizza por telefone.

– Com menos dinheiro, agora ficamos mais tempo juntos – diz Linei.

SAPATOS PERSONALIZADOS

Ciente de que muitas profissionais trabalham em ambientes onde precisam variar o sapato de salto alto, Nair Tomaz, 65 anos, fez um estoque de enfeites com brilho e detalhes que dão sofisticação ao calçado, parecendo que nem são os mesmos. Ela também pinta, muda a forração, tudo que envolve a customização. E tem clientela para isso. Afinal, a pintura pode mudar completamente o sapato por cerca de R$ 30.

– A crise é a melhor coisa para reciclar – diz Nair, com bom humor e disposição.

Ela e o marido, José Laerte Tomaz, 58, trabalham juntos há três décadas e, nos últimos seis anos, os dois mantêm a Sapataria Cegonha, no bairro Iririú. José Laerte diz que nem pensa em crise, pois ele e a mulher trabalham diariamente das 8 às 22 horas e estão lotados de serviço por duas semanas seguidas. Neste inverno, o volume de serviço dobrou em relação a 2014, e eles sabem que é por causa da crise.

– Até capa de botijão de gás o pessoal está reformando – revela Nair.


HORA DE VIRAR O JOGO

No ano passado, o empresário do ramo de confecção de moda praia Rodrigo João Serafim percebeu a aproximação da crise e decidiu fortalecer o negócio. Investiu perto de R$ 15 mil em consultoria para desenvolver uma nova identidade visual para a indústria de pequeno porte.

Também fortaleceu a área comercial da empresa, além de melhorar a gestão financeira e identificar um novo nicho de atuação, passando a fornecer para indústrias como Malwee e Marisol. O resultado foi garantido. Neste primeiro semestre, o faturamento subiu 25%.

A empresa Maria Luiza Beach Wear existe há 20 anos, fundada pelos pais de Rodrigo. Ele está no negócio há 11 anos. Durante todo esse tempo, admite que boa parte do conhecimento de gestão foi adquirida na prática. Ao mudar o jogo, Rodrigo está conseguindo fazer a empresa crescer mesmo em meio à crise.


SEM MEDO DE EMPREENDER

Há quatro anos, Rodolpho Menezes Malta prepara o projeto de se tornar um empreendedor. O sonho começou a se transformar em realidade em maio último, quando ele deixou o emprego e passou a viver da consultoria contábil, ao mesmo tempo em que conclui as últimas etapas do plano de negócio.

O projeto solo foi dividido em três partes: a técnica, a de networking e a financeira. Com formação na área contábil e 15 anos de experiência, Rodolpho sente-se seguro para oferecer seus serviços de consultoria focada em pequenas e médias empresas. Para o fortalecimento do networking, cultivou relacionamentos ao longo da carreira.

A última, considerada a mais difícil para muitos, exigiu de Rodolpho muita disciplina. Para levantar o capital necessário, adequou os gastos a um patamar de consumo menor e conseguiu economizar mês a mês 40% do salário.

– Não tenho dívidas – afirma o empreendedor que, aos 32 anos, começa uma nova vida ao lado da esposa e da carreira que construiu um pouco todos os dias.

Fonte: Empresários de pequeno e médio porte de Joinville mostram como manter negócios lucrativos mesmo com a economia instável – Economia – A Notícia

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