A filosofia de Lemann pode ser replicada em vários tipo de negócios
Nenhum investimento do empresário Jorge Paulo Lemann, sócio do fundo 3G, controlador de um império de importantes empresas globais, como AB InBev, Burger King e Heinz/Kraft, é feito da noite para o dia. Assim como ocorre nos grandes negócios, a tomada de decisão para entrar em empresas de menor porte e consideradas “fora da curva” é muito bem planejada, apurou o jornal O Estado de S. Paulo.
No caso do aplicativo de mensagens instantâneas Snapchat, o fundo Innova Capital, no qual Lemann é investidor, avaliou que a companhia, com sede na Califórnia, tem grande potencial que crescimento no Brasil. Com perfil ativista, o fundo não se dá por satisfeito em participar de suas apostas apenas com dinheiro. Gosta de influenciar na gestão e participar das decisões, mesmo não sendo o sócio controlador do empreendimento.
Não à toa, em maio, Lemann fez um curso na Singularity University, instalada no centro de pesquisa da Nasa, no Vale do Silício (Califórnia), para se informar sobre inovação e entender melhor sobre a lógica das empresas deste setor.
O investimento em tecnologia, porém, começou já há alguns anos. O Innova investiu na empresa de aplicativos Movile em 2014, por acreditar no potencial da desenvolvedora brasileira, fundada em 1998 e hoje controlada pela empresa sul-africana Naspers a mesma que possui participação no Buscapé.
Nos últimos anos, a Movile foi fazendo aquisições e hoje é dona de apps importantes, como iFood e Playkids, que já têm atuação fora do Brasil.Das oito companhias investidas pelo Innova, outras três atuam no setor de tecnologia, como a Accera, empresa nacional especializada em soluções de gestão da cadeia de suprimentos, que tem fatia minoritária na Visor, de inteligência de mercado; e a TradeForce, de gestão e trade marketing.
No entanto, o fundo também investe em negócios da “economia real”, de pequeno porte, mas com forte potencial de expansão. São os casos da rede de padarias Benjamin, com 12 unidades; da Diletto (fabricante de picolés) e da Dauper (que produz ingredientes alimentícios e cookies).
Na Benjamin, a Innova entrou em agosto de 2015, em parceria com a gestora Península, do empresário Abilio Diniz, ex-dono do Grupo Pão de Açúcar (GPA) e acionista do Carrefour global e da BRF. Os dois megainvestidores acreditam que a rede pode se tornar uma das maiores do País, uma vez que esse mercado é pulverizado.
Para entender como esse segmento funciona, Abilio, Lemann e gestores da Innova fizeram, juntos, visitas a grandes redes de padarias na Califórnia. “Agora, as pessoas brincam sobre quando a rede de padaria vai atingir 5 mil unidades, uma cobrança de Abilio, e quando atingirá seu primeiro US$ 1 bilhão, uma meta de Lemann”, disse um empresário à reportagem.
Na trajetória de sucesso de Lemann, nem todos os investimentos foram bem sucedidos. Um desses casos é o da maior ferrovia do País, ALL (hoje Rumo-ALL), onde a “trinca” do 3G investiu quando ainda fazia parte da GP Investments.
A mesma lógica de gestão foi usada no negócio, mas não deu os mesmos resultados, segundo fontes. Nos EUA, o 3G chegou a aplicar na CSX, do mesmo ramo, em 2007, mas acabou desistindo da empreitada em 2011, após não conseguir comprar o controle da empresa.
Desafio
Quando o investimento do Innova no Snapchat veio a público, em maio, o mercado se surpreendeu com a ousadia de Lemann. “O desafio de Lemann é transpor a filosofia de meritocracia e de corte de custos a uma empresa de inovação”, diz a jornalista Cristiane Correa, autora de ‘Sonho Grande’, que conta a trajetória do trio Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.
Para Sérgio Lazzarini, professor do Insper, o corte de custos é mais empregado em empresas maduras da economia real. “Já a meritocracia se aplica perfeitamente a uma empresa como a Snapchat. Nesses casos, o incentivo a quem traz inovação e novas ideias são participações na própria empresa.” Procurados, Lemann e Innova não quiserem se pronunciar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.