A cada dez jovens empreendedores com idade entre 18 e 34 anos, seis não aceitariam trocar o seu próprio empreendimento por um emprego formal, com carteira assinada e um salário compatível com o mercado. É o que afirma uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) junto à Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
Para Leandro Pompermaie, diretor da Raiar da PUCRS, incubadora que dá suporte a startups e projetos de empreendedorismo realizados por estudantes universitários, a atual geração de jovens vive um momento de mudança na relação com o trabalho. De acordo com o especialista, a geração de faixa etária superior aos 40 anos se apegava à estabilidade por depender de poucas opções, como o funcionalismo público e a grande indústria. “Com a abertura comercial da década de 1990, começamos a ver que o mundo era muito maior: as pessoas começaram a viajar, tiveram contato com o acontecia lá fora e isso fez com que este geração quisesse experimentar antes de pensar em estabilidade”, afirma.
Na opinião do diretor da Raiar, o perfil empreendedor de parte da atual geração não está ligado exclusivamente ao desejo de autonomia financeira, mas a uma ânsia por testar coisas novas e deixar a sua própria marca no mundo. “Não é uma questão de querer ser dono do próprio nariz. É a vontade de criar algo para a sociedade. É uma geração que não se prende muito a criar uma empresa familiar”, exemplifica. De acordo com Pompermaie, as universidades já iniciaram a adaptação do currículo acadêmico ao novo perfil dos jovens: “Já começamos a trabalhar internamente isso dentro das universidades porque o pessoal dos cursos de Nutrição, Psicologia ou do Direito, por exemplo, começa a perceber que o mercado de trabalho não é o suficiente”.
A predileção pelo empreendedorismo ajudou o gaúcho Lawrence Andreis, 29 anos, a se tornar sócio de dois food trucks de sucesso em Porto Alegre: o Braza, especializado em hambúrgueres, e o Versão Brasileira, que comercializa clássicos da comida de rua mundial, produzidos a partir de elementos da culinária local. O empreendedor, que cursou Gastronomia na Unisinos, chegou a fazer parte da equipe de cozinha do chef Henrique Fogaça, jurado do reality show MasterChef, no restaurante paulista Sal Gastronomia. “Eu sempre procurei ter meios para ter meu próprio negócio. Acho que é uma questão de quem vai dar ‘a cara a tapa’. É libertador quando tu sais da cozinha e vais para o meio do salão, porque a rua acaba virando o teu salão. Ali, tu tens o feedback automático dos clientes, um contato mais direto que é ótimo para o crescimento do cozinheiro”, empolga-se.
A ideia de ter um truck surgiu após Lawrence trabalhar, durante sete meses para um trailer de comida em Paraty, no Rio de Janeiro. Depois disso, em 2014, o modelo de negócio já estava bem definido: “Alugar um ambiente fixo vai tomar quase 100% do tempo, da logística. E o truck possibilita a flexibilidade de fazer uma agenda conforme a demanda”, afirma. O cardápio também não é fixo. “Pegamos pratos famosos e adaptamos para ingredientes brasileiros, como o hamburguer com ketchup de banana. É tudo autoral, nós que criamos e desenvolvemos.”
Segundo a pesquisa do SPC, para 15,7% dos entrevistados, empreendedorismo representa falta de patrão. Já para 13,2% dos jovens consultados, ter seu próprio empreendimento indica a necessidade de pagar tributos. Outros 6,7% afirmam que o negócio próprio é sinal de independência financeira, enquanto para 4,3% é sinônimo de contribuição para o crescimento do país e geração de emprego.
Fonte: MSN.com