Filho de Urubatan Helou, fundador da Braspress, cuja sede agora é em Guarulhos, Tayguara Helou falou à RG sobre sua carreira, o grupo que dirige, o Setcesp, do qual é presidente, e se disse animado com as perspectivas da economia brasileira.
Para orgulho de Guarulhos, a Braspress agora tem sua sede em nossa cidade. Em que ano a Braspress foi fundada, onde e por quem?
Para nós é um orgulho e um prazer estar em Guarulhos, uma cidade que é a capital da logística do Brasil, por vários aspectos: abriga o principal hub de transporte aéreo, o portal do Brasil para o mundo; os vários acessos por rodovias; pela presença de seu grande parque industrial e de inúmeras transportadoras e empresas de logística. A Braspress foi fundada por meu pai, Urubatan Helou, em 1º. de julho de 1977. É uma longa história. Vamos tentar resumi-la.
Conte-nos um pouco de como tudo começou.
Meu pai começou as atividades aos 14 aos de idade, em Uberlândia (MG), sua cidade natal. Meu avô tinha uma filosofia esquerdista, foi o fundador do Partido Comunista de Minas Gerais. O irmão dele tinha posição totalmente oposta, era brigadeiro da Aeronáutica, de extrema-direita. Durante o regime militar, meu avô precisou fugir. Meu pai é filho único, meu avô era a única fonte de renda da pequena família, que era querida por lá; estando ele refugiado, a cidade se comoveu com isso: o padeiro ajudava com o pão, o açougueiro com a carne, e o vizinho da casa em que meu pai morava era dono da Transportadora Uberlândia. Convidou-o a trabalhar com ele, como cobrador de “frete fob”, que é quando o destinatário paga o frete. Tempos passaram, muita coisa aconteceu, meu pai seguiu outras carreiras… Aos 19 anos, veio para São Paulo. Foi morar em uma pensão no Centro.
Começou distribuindo o Diário Oficial em um triciclo, igual ao que está exposto em nossa recepção. Como era na região central da cidade, passou a se relacionar com o pessoal da indústria cinematográfica, transportando rolos de filmes em latas no seu triciclo. Levava-os à rodoviária, despachava-os na empresa de ônibus. Esse negócio foi crescendo, ele montou uma empresa com dois colegas, chamada Transfilme, que foi se desenvolvendo crescendo, muito devido ao lançamento do filme Oriente Express no Brasil; que teve origem no livro de Agatha Christie e meu pai era grande fã do filme. Com o crescimento, conseguiram comprar uma Kombi, abriram uma filial no Rio de Janeiro e outra em Belo Horizonte, ficando um sócio em cada local. Ainda que com muita dificuldade, começaram a transportar outras coisas, como autopeças e foram crescendo. O back-office, toda a parte administrativa, ficava em São Paulo. Os sócios viviam bem em suas cidades, carro do ano, tranquilos, e meu pai penando para honrar a folha de pagamento e outros compromissos.
Até que ele concluiu por desfazer a sociedade. Ele tinha cerca de 26 anos e ofereceu sair da empresa com a primeira Kombi e as duas linhas de telefone que tinham em São Paulo. Chamou para conversar o funcionário Milton Domingues Petri e explicou que iria montar uma nova empres e não tinha condições de pagar salário por enquanto. Petri não pensou que fosse algo ruim, mas aliviou-se quando meu pai disse que lhe daria 20% de tudo que construíssem juntos. Assim foi feito e até hoje Petri tem 20% da Braspress.
O nome tem a ver com o filme Oriente Express?
Exato. Resolveram abrir a Brasil Express, inspirados no filme Oriente Express. Porém, essa marca já era registrada pela Sadia, então acionista da Vasp. Foi quando meu pai teve a ideia de juntar parte de cada nome e formar a marca Braspress, constituída em 01.01.1977.
Qual sua formação?
Sou formado em Administração de Empresas, com ênfase em Finanças, pela Bond University, na Austrália. Tenho pós-graduação em Gestão de Negócios, pelo Holmes College, também na Austrália; MBA em Gestão Empresarial, pela FGV, e agora buscando novos conhecimentos, talvez almejando um doutorado na área de tecnologia.
Desde quando na empresa?
Praticamente nasci dentro da transportadora, que era bem menor na época. Acompanhei o crescimento durante toda minha vida. O empresário tem umas sacadas espontâneas que são muito assertivas. Meu pai nunca trouxe a mim e ao meu irmão para a empresa como um castigo, mas como um prêmio. Se íamos bem na escola, ganhávamos o direito de vir para a empresa brincar. Depois, comecei a atuar no recebimento de encomendas, no departamento de coleta, fui conhecer outras áreas; porém, sempre nas férias pois a regra básica era privilegiar os estudos. Depois que voltei da Austrália, em 2003, é que efetivamente iniciei meu trabalho na Braspress.
Então, não teve experiência em outras empresas?
Não tive. Minha maior experiência fora da Braspress tem sido no Setcesp, onde sou o atual presidente.
Quais cargos exerceu lá antes de ser presidente?
Fui suplente de diretor e vice-presidente. Na presidência, estou há três anos. Meu pai também presidiu o Setcesp.
Para instalar-se em Guarulhos a Braspress obteve alguma vantagem fiscal, algum benefício oferecido pelo Município? A empresa reivindica do poder público melhorias para aprimorar a operacionalização?
Não cogitamos pedir nenhum benefício e estamos satisfeitos com as condições que encontramos para nosso funcionamento.
Qual o investimento feito nas novas instalações?
A área total é de 230 mil m2, sendo 90 mil m2 de construção, entre a via Dutra e a avenida Monteiro Lobato. Chamamos esse complexo de Planeta Azul, incluindo nossa matriz e a Filial São Paulo. O novo Sorter (Sistema Automatizado de Distribuição de Encomendas) tem 6.400 metros de extensão e pode operar 15 mil volumes por hora. Para isso, foram necessários R$ 260 milhões, dos quais metade do nosso caixa e o restante de financiamentos obtidos. Concentramos aqui toda nossa consolidação de carga de transporte. Trouxemos para isso o que há de melhor em tecnologia de automação do planeta: nosso sorter tem 6,4 km de extensão e capacidade de classificar 15 mil volumes por hora; batemos pela terceira vez nosso próprio recorde em automação. Temos a mais avançada rede de dados do planeta, toda em fibra ótica, mesmo no espaço interno, o que garante velocidade e qualidade no fluxo das informações. Nosso datacenter também é o mais avançado do mercado, classificação Tier 3, sendo que a mais avançada do mundo é Tier 4; no Brasil, nenhuma outra do ramo tem um datacenter como esse. A Braspress realmente se diferencia pela tecnologia. Nossos locais em São Paulo e outras cidades da região metropolitana viraram terminais de distribuição urbana.
Quantos empregos diretos a empresa gera em Guarulhos?
São 1.350 colaboradores, a maioria dos quais eram nossos funcionários na vila Guilherme e já residiam em Guarulhos. Na rede toda, o grupo emprega 6 mil pessoas no regime da CLT e mais 1.500 terceiros totalmente dedicados ao negócio. Muitos deles são agregados de transporte, transferência e outras tarefas. No transporte rodoviário de cargas, a terceirização da atividade-fim é regulamentada pela Lei 11.442. Fora os serviços auxiliares, como segurança e limpeza, por exemplo. É preciso salientar que, por melhores que sejam nossos sistemas, por mais avançada que seja a tecnologia, por mais modernos que sejam os caminhões, contar com colaboradores capacitados e motivados é imprescindível. Sem a qualidade desse capital humano, nada dá certo. Coisas podem ser compradas. Pessoas, não: elas precisam ser conquistadas. Para conseguir isso, tem-se de trabalhar com muito afinco e carinho.Nós sempre tivemos uma relação muito prõxima com nossos colaboradores.
Ao todo, quantos são os colaboradores da Braspress?
No Brasil inteiro, 7.500.
Qual a abrangência dos serviços da Braspress Brasil afora?
Temos 96 sedes em todo o Brasil. Atendemos o País todo, de Norte a Sul, Oeste a Leste, além da carga de exportação para o Paraguai e Argentina; estamos construindo a estrutura de distribuição doméstica na Argentina.
De quantos caminhões se compõe a frota?
São 1.200 caminhões próprios, mais cerca de 800 a 850 terceirizados.
A Braspress apoia projetos sociais?
Sim, muitos. Somos Empresa Amiga da Criança, signatários do Projeto Childhood, de proteção aos direitos das crianças e de combate à prostituição infantil nas estradas. Promovemos diversas ações, como campanha do Agasalho, doação de sangue, outubro Rosa, novembro Azul. Temos carretas adesivadas, difundindo conceitos educativos, buscando crianças e adultos desaparecidos, orientando para a acessibilidade e outras formas de conscientização. Graças a isso, algumas pessoas foram localizadas, felizmente.
Na qualidade de presidente do Setcesp, quais as perspectivas do mercado de transporte para este ano?
O ramo de transporte é uma ferramenta econômica, variando conforme o ritmo da economia. Não temos dúvida de que este ano é promissor, por vários fatores; um é que o Brasil nunca experimentou inflação baixa e juros baixo. Outro fator é a reforma trabalhista, que tem trazido benefícios aos trabalhadores e confiança para que as empresas possam contratar mais e melhor. Por mais polêmico que seja o tema, a reforma criou muitas chances de novas vagas de trabalho.
Quantas empresas o Setcesp congrega?
São 21 mil empresas em nossa base e Guarulhos é a segunda em importância em toda essa rede.